Você provavelmente já ouviu falar na Vila Sésamo, certo? A famosa série infantil de caráter educativo baseada no programa americano Sesame Street. Quando os direitos do programa original foram cedidos para reprodução em outros países, o seu conteúdo teve que ser consideravelmente alterado para a realidade de cada local. O motivo dessa alteração se deu porque crianças de diferentes culturas tinham necessidades diferentes e aprendiam de forma diferente. Por exemplo, enquanto nos Estados Unidos o foco do desenho era o aprendizado de leitura e números, em Israel, o programa preferia utilizar métodos de aprendizagem que focassem primeiramente no respeito mútuo e na compreensão.

O alinhamento da cultura com a aprendizagem é um assunto que por anos vem sendo debatido por educadores e estudiosos da área. Afinal, cultura e ensino devem mesmo andar juntos?

Antes de tudo, precisamos estabelecer o que é a cultura. Quando pensamos em cultura, muitas vezes o que vêm à nossa cabeça são datas comemorativas, festas populares e músicas tradicionais, porém, a cultura não é somente limitada a isso, ela também engloba as crenças, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos por um certo indivíduo e compartilhados por grupos e gerações.  A cultura está sempre em movimento de transformação, uma vez que diariamente nós somos todos criadores e propagadores de cultura.

Segundo o sociólogo Pierre Bourdieu, a cultura é o conteúdo substancial da educação, ela nutre todo o processo educacional, por isso devemos pensar nesses dois conceitos como aliados de suma importância na formação e socialização dos educandos e na mudança da forma de pensar dos educadores.

Se a cultura é uma aliada, quais benefícios ela traz?

Vivendo num mundo globalizado como o de hoje, a escola torna-se o palco principal para a união e socialização de crianças e adolescentes. A escola passa a ter como função protagonista a criação de um ambiente sociável onde os alunos possam manifestar seus ideais sem medo de represálias ou de terem estereótipos impostos. Quando a cultura é adotada como parte desse processo de socialização e aprendizagem, permitimos que cada aluno passe a se sentir como parte do processo educacional, pois alteramos a percepção do meio quanto a certos costumes, seja de atitude ou de vestimenta, que outrora podiam ser considerados “antiéticos” ou até mesmo “imorais”. Ao se atentar a cultura de cada um e achar uma forma de integrá-la ao coletivo, os educadores passam a ser intermediadores em debates sobre diferentes culturas, ajudando a fomentar a valorização de cada uma delas e levando, por fim, a retirada de uma barreira entre os alunos que antes podia ser motivo de exclusão.

Além da diminuição do sentimento de ansiedade e estresse causados por sensações de exclusão, a cultura se faz extremamente necessária no processo educacional no sentido em que influencia diversos aspectos do desenvolvimento da criança e do jovem e molda as suas experiências, tanto na esfera de aprendizagem quanto na esfera comportamental, estimulando ou desencorajando comportamentos.  

E qual o passo a passo para incorporar a cultura na educação?

É aí que a história fica um pouquinho mais complicada.

Apesar de ser o palco de pluralidades, as escolas ainda têm uma grande dificuldade em conciliar cultura e ensino e unir esses dois conceitos dentro de um mesmo processo. Isso ocorre, primeiramente, porque os conteúdos trabalhados na escola não possuem uma relação direta com as culturas vivenciadas por educandos e educadores. A cultura trabalhada no currículo se atém àquela ideia de cultura tradicional, discutida anteriormente.

Cria-se então o desafio de encontrar estratégias de entrelaçar a pluralidade de culturas com a pauta curricular. É importante como passo inicial para implementação da cultura na aprendizagem que sejam observados alguns aspectos como estilo de aprendizagem de cada aluno. Por exemplo, em países orientais, como a Coréia do Sul, o aprendizado através de brincadeiras lúdicas como o faz-de-conta não é muito efetivo, considerando que não faz parte da rotina educacional do país.  Quando as crianças de culturas orientais participam desse tipo de brincadeiras, elas tendem a personificar um membro da família, ao invés de realmente dar vazão à imaginação, diferentemente de crianças ocidentais que possuem muito mais facilidade para entrar em personagens fictícios diversos.

Um outro ponto importante é notar que em algumas culturas alunos quietos são bastante valorizados. Por isso, um estudante pode não se sentir confortável respondendo questões em voz alta ou sendo participativo – nesse caso, se o aluno vai bem, é preferível permitir o silêncio. Em outras culturas é visto como fundamental ensinar unidade ao invés de competitividade, nessa situação é melhor trabalhar com tarefas em grupo oposto às atividades individuais.

Além disso, é preciso observar que cada indivíduo tem o seu próprio estilo de aprendizagem. Existem alunos que irão aprender melhor visualmente, para esses é importante o uso de materiais como gráficos e tabelas; já outros alunos irão aprender melhor pelo tato, sendo importante aulas mais práticas que exijam “mão na massa”. Nesse último caso também é válido dar mais tempo para o aluno praticar a nova habilidade ou chamar voluntários para demonstrar como o trabalho deve ser feito.

Tendo consciência de como cada turma aprende melhor, fica mais fácil elaborar técnicas e métodos didáticos para inserir a cultura no plano de ensino.  Algumas dicas são focar em trabalhos em grupo a fim de evitar o foco em alunos individuais, instigar os alunos a aprender como referencias teóricos da disciplina estudada implicam na construção de certas características de culturas variadas, utilizar-se de aspectos de outras culturas para exemplificar conceitos de determinada disciplina, promover eventos escolares que promovam a valorização de outras culturas, entre outros.

Por meio destas atividades será mais fácil facilitar o aprendizado dos educandos independente do grupo à qual pertencem, estimular autoestima dos estudantes, exercitar a democracia por meio do respeito ao plural e promover atividades e ações que enfraqueçam movimentos racistas, discriminatórios e de ódio na sociedade.

Aliar cultura e aprendizagem não é uma tarefa fácil, mas o resultado dessa junção é muito frutífero para todas as partes envolvidas: educadores, educandos, famílias e sociedade.

 

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