As transformações e modernizações da sociedade impactam diretamente nos processos de educação e como são pensadas as práticas em sala de aula. Afinal, quando falamos em práticas mais relacionadas com o respeito e igualdade no dia a dia, precisamos considerar que isso também deve estar presente nos exercícios que envolvem a educação e maneiras como eles são transmitidos e construídos junto aos educandos. Sobretudo no que diz respeito à incorporação de conceitos como ética e cidadania no cotidiano escolar.

Mas como uma instituição de ensino pode trabalhar essas ideias de forma criativa? Como elaborar práticas que envolvam o aluno e o deixem apto a exercer a tolerância, o respeito e a empatia em relação aos colegas de turma, professores e familiares? Como educar cidadãos mais dispostos a refletir, que sejam mais críticos e responsáveis com o bem-estar social?

Não se preocupe, nós pensamos e elencamos alguns pontos-chave que são essenciais para serem refletidos e debatidos colaborativamente em sala de aula. Olha só:

Mais diálogo e menos monólogo

É importante que nós, educadores, saibamos inspirar pelo exemplo. De nada adianta discursar na frente da turma sobre tolerância a opiniões divergentes e negligenciar o que os alunos têm a dizer sobre os assuntos debatidos.

O educador deve construir uma ponte, um diálogo constante com os estudantes sobre temas como aceitação de diferenças e respeito aos colegas. Além disso, é essencial que o aluno desempenhe um papel ativo em sua formação, pois o desenvolvimento se dá muito mais pela troca de informações e experiências do que por meio da memorização do conteúdo.

Os assuntos podem ser colocados em pauta segundo um calendário elaborado pela própria classe, com a mediação de um professor. Nessa dinâmica, os discentes podem expressar suas opiniões verbalmente ou de forma escrita — e não há resposta errada. Tenha em mente que o exercício será mais rico se alunos de diferentes turmas e idades puderem debater em conjunto.

Analise os extremos de uma única situação

É importante que você promova mais a reflexão do que simplesmente entregue respostas prontas do que deve ou não ser feito. Um exemplo de como fazer isso é analisar os extremos de uma única situação e como ela poderia ser colocada na vida real, no cotidiano.

O extremo do ético e o extremo do incorreto podem ser facilmente apontados em situações radicais como um assassinato, ou o desvio de dinheiro em campanhas eleitorais, porém é importante ressaltar a importância desses valores em situações vividas pelos alunos, como, por exemplo, colar na prova, sentar em assentos preferenciais quando pessoas idosas ficam em pé, cortar filas, etc.

Uma boa ideia para trabalhar essas questões é desenvolver uma atividade que chamaríamos de “a ética que eu vejo”, na qual os educandos vão trazer situações que eles mesmos vivenciaram e, por meio do debate coletivo, poderão compreender a visão de outras pessoas. É claro que nesse processo os educadores deverão estar presentes para dar direcionamentos e estimular as conversas de acordo com o senso comum da sociedade sobre o que é, ou não, ética.

Vai ser um processo prático de construção coletiva, que certamente contribuirá para fixar alguns conceitos e valores no imaginário dos jovens.

Faça um teste de limites

Inclusive, essa prática pode ser um desdobramento da sugestão dada acima. É muito interessante provocar nos educandos esse teste de limites, para que eles consigam visualizar em suas próprias realidades questões que são essenciais para o bem-estar comum dentro de uma comunidade.

Pergunte sobre o que eles fariam se as situações de risco comprometessem familiares e amigos, ou que regras estariam dispostos a quebrar para ajudar e salvar essas pessoas? Ajude-os a refletir sobre a importância e influência dos relacionamentos em suas decisões éticas e como os outros, próximos ou não, podem ser afetados por elas.

Uma ideia interessante é propor a mesma pergunta envolvendo duas pessoas diferentes: um terceiro, que não tem relações afetivas próximas com os educandos, e com alguém próximo – amigo ou familiar. Faça isso deixando claro que a ética é importante e precisa ser valorizada em todos os âmbitos e aspectos da vida, e não somente quando for algo de interesses individuais.

Fortaleça o processo de estabelecimento de regras

Essa atividade pode parecer um tanto monótona, mas feita corretamente irá provocar debates e muita interação entre pontos de vista diferentes. No contexto de cada sala de aula, do nível de educação e dos alunos, o professor deve pensar em situações onde eles possam estabelecer uma regra pessoal de conduta.

Por exemplo, nunca vou xingar ou bater em outro colega. A partir dessa escolha, coloque as regras em prova. Por exemplo, e se ele for atacado, não irá se defender? Qual é o limite da paciência para não explodir com o colega e xingá-lo ou desrespeitar o professor? Quais são as alternativas para resolver os problemas de forma educada e respeitosa?

Antes de trazer respostas prontas, provoque a reflexão. Torne os educandos parte do processo de construção de resultados. Afinal, quando eles pensarem sobre como reagiriam a determinadas situações, por consequência, também estarão assimilando posturas e comportamentos a fim de evitá-las. Em outras palavras, um educando que filtra e reage respeitosamente, dificilmente repercutiria uma ação agressiva contra outras pessoas.

Troque os papéis

Novamente, considerando a atividade sugerida acima, você pode relacionar as informações discutidas e conclusões alcançadas para propor um novo exercício: trocar os papéis e perguntar aos alunos se eles gostariam de viver debaixo das regras criadas por outros. Por exemplo, se você, como professor, acha que não é errado fofocar ou falar dos alunos, o que acharia como diretor, sobre fofocar sobre os docentes? Faça a inversão de papéis e procure observar como cada um se sente quando é colocado no lugar do outro.

É um exercício de empatia. Pois, muitas vezes, não consideramos o peso das nossas ações quando elas afetam outras pessoas, mas no momento em que são refletidas sobre nós mesmos, a forma de pensar e encarar as consequências é outra. Por isso, é importante despertar a consciência para provocar e incentivar a transformação desse padrão.

Preparado para esse desafio de cidadania?

Como educadores, ao assumirmos essa postura de trabalho junto aos nossos estudantes estamos – além de contribuindo para a formação de cidadãos exemplares – assumindo o papel de protagonistas de uma educação transformadora e que, também, pode transformar realidades.

Assim como pontua a pesquisadora Amanda Viegas, do Par Plataforma Educacional: “a ética e a cidadania, juntamente com outras competências socioemocionais (como empatia, colaboração e pensamento crítico), devem fazer parte do cotidiano das escolas e na preparação do aluno para os desafios que vão enfrentar”. Quanto mais expostos a debates e ao compartilhamento de ideias, mais os estudantes se interessarão por essas temáticas e refletirão sobre elas, incorporando-as em sua vida fora da escola.

Afinal, um cidadão crítico e responsável reflete, busca se informar e troca opiniões de forma tolerante e respeitosa. Nesse sentido, o trabalho da ética e da cidadania em sala pode até mesmo amenizar a ocorrência do bullying na realidade escolar. Isso porque. ao formar alunos com uma boa orientação socioemocional, eles aprendem a respeitar as diferenças e a se comunicar caso algo esteja acontecendo.

 

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