Tenho uma sobrinha adolescente. Há algum tempo, soubemos que haveria um show do cantor Luan Santana em uma feira agropecuária em uma cidade vizinha, próxima de onde eu e ela moramos. Eu havia prometido que a levaria para assistir ao show e que ficaríamos em um lugar bem próximo do palco, para que ela pudesse assistir mais de perto e com maior conforto. Lembro-me que ela estava bastante ansiosa para a data do evento e sempre me perguntava sobre a tão esperada data em que, além de ir ao show, passaria um dia em minha casa.
Certo dia, estávamos na casa do meu irmão – pai dela – conversando, na garagem, sobre alguns assuntos quando ela me questionou sobre o valor dos ingressos para o show. Disse a ela que os ingressos, por serem VIP, e ficarem em um lugar privilegiado e com mais segurança, custaria o valor de cem reais cada um. Ela então perguntou se havia a possibilidade de levar seus pais e sua irmã mais nova para o show e sugeriu que eu comprasse os cinco ingressos para que todos da família fossem ao show. Disse que não havia problemas, no entanto, sugeri ajuda do meu irmão para comprar os ingressos e também a possibilidade de comprarmos os da área popular, visto que ficaria mais em conta para todos, já que a quantidade dos ingressos havia aumentado.
Ela não viu problemas, porém questionou:
– Mas quanto é o ingresso mais barato?
– R$ 43,00 cada – respondi a ela.
– Quanto então custará os cinco ingressos a R$ 43,00 cada? – ela questionou.
Nesse momento, meu irmão, com um olhar de descontentamento e alterando o tom de voz, impôs um comentário:
– É só calcular!
Mais rápido que o comentário do pai, respondeu ela:
– Eu não, eu estou de férias!
Por mais engraçada que a história pareça, a ponto de se aproximar, inclusive, de uma piada, a história, para nós professores, é muito mais trágica, visto a gravidade da situação. O que parece ficar claro, a partir dessa fala, é que a matemática para minha sobrinha é compreendida como uma disciplina utilizada apenas dentro do espaço da escola com o propósito de se fazer avaliações e progredir de um ano para o outro. Em extensão a esse comentário, peguei-me pensando inúmeras vezes no modo como as escolas têm apresentado as disciplinas para os alunos. Qual tem sido o propósito de se aprender matemática, português, história?
Penso que não faça sentido ensinar e aprender uma disciplina escolar sem um real propósito, ou seja, sem articular as disciplinas escolares com a vida, com o cotidiano dos alunos. Alunos que, assim como minha sobrinha, tiram 10,0 nas avaliações e com facilidade progridem de um ano para o outro, porém não conseguem ver sentido naquilo que se aprende na escola com suas necessidades do dia a dia.