A Inglaterra perdeu um súdito, que havia se tornado cavaleiro da realeza. Nascido em Liverpool, terra dos Beatles, um professor de artes e diretor de escolas foi nomeado pela Rainha Elizabeth II como Sir – ou cavaleiro. Uma honraria para poucos, especialmente àqueles que contribuem significativamente com as artes e a ciência no país bretão. Seu nome: Ken Robinson. Ou melhor, Sir Ken Robinson. Ele se foi no dia 21 de agosto, depois de lutar contra um câncer. Mas sua obra se perpetuará. Esse professor, na essência, se tornou a principal voz pela educação no mundo.

Em 2006 surpreendeu o mundo com uma palestra no TED intitulada: As escolas matam a criatividade. Forte demais para alguns e provocação necessária para outros, o professor Ken, com sua sabedoria e elegância, arrebatou milhões de pessoas pelo mundo com seus argumentos e ideias pela criatividade e inovação na educação. Quando o vi pela primeira vez, fiquei simplesmente encantado com cada palavra que aquele senhor proferia nos minutos em que duraram sua fala. Desde então, passei a acompanhá-lo em suas falas, entrevistas e a ler todos os seus livros. 

Sir Ken Robinson defendia que cada criança possui habilidades e talentos únicos que devem ser valorizados e despertados em casa e principalmente na escola. Que a arte deveria ter o mesmo peso que a matemática. Que a criatividade e a curiosidade deveriam ser igualmente estimuladas em sala de aula, tanto quanto a linguagem e a ciência. E que as emoções e os talentos deveriam ter a mesma importância da razão e da lógica.

Seu livro – Libertando o Poder Criativo, de 2001 – se tornou meu livro de cabeceira em minhas pesquisas e estudos. Em 2009, escreveu – O Elemento-Chave – sobre encontrar o elemento-chave que todo ser humano possui para que seja feliz e não passe sua vida se arrastando em trabalhos que não estão conectados com sua essência e talentos. Esse livro teve um impacto determinante para que eu seguisse adiante com o sonho de criar a Escola de Criatividade que estava, naquele ano, nascendo. 

Em 2015, já cavaleiro da rainha, Sir Ken Robinson escreveu o brilhante Creative Schools – a revolução que está transformando a educação no mundo. Sua fala e escritos impulsionaram uma causa que temos levado adiante com muito orgulho, que é contribuir com a educação brasileira por meio da criatividade e da mudança. Definimos naquele ano que se atuamos nas empresas e no ambiente profissional para, justamente, estimular a criatividade e a inovação das mais diferentes formas, precisávamos obrigatoriamente entender a fundo de onde vinham os bloqueios criativos e a falta de confiança para inovar, tão comuns no ambiente do trabalho. Bloqueios antigos criados na “velha escola” que mata a criatividade como diria Ken. 

E, por isso, precisávamos mergulhar no mundo da educação, entender as bases, sistemas e padrões que como ele mesmo dizia: “permanecem os mesmos desde a revolução industrial do século XIX”, e precisavam ser quebrados com coragem e mudança.

Esse professor de Liverpool não tinha medo de cara feia. Porque ele mesmo disse em uma de suas falas que o setor educacional é, talvez, o mais conservador e extremamente resistente às mudanças. E toda voz levantada contra os padrões em ambientes conservadores, é contestada e atacada para que a mudança não chegue àqueles que preferem o mais do mesmo. Mas sua voz, muito sábia e generosa, não poderia ser calada e ganhou o mundo, literalmente.

Pra mim e para todos nós da Escola de Criatividade, Sir Ken Robinson criou um movimento universal a partir de uma causa tão pouco valorizada por inúmeros governos pelo mundo – a educação. Uma causa tão essencial para o mundo que deveria ser não apenas semeada por educadores, mas também cultivada por toda humanidade. Uma obrigação de todos, de uma forma ou de outra, fazer parte da revolução educacional que Sir Ken e tantos outros corajosos pelo mundo sonharam.

A Inglaterra perdeu seu professor, seu súdito que se tornou cavaleiro. Porém, para mim, o mundo perdeu um rei que lutava pela educação de crianças e jovens e pelo direito de desenvolverem seu potencial criativo.

Mas sua voz e sua obra são imortais.

Thank you Sir Ken Robinson.

God save the king!

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