Na intenção de extrair o interesse de pesquisa do grupo de alunos(as) do 3º e 4º anos, as professoras propuseram um passeio de ônibus ao trevo de acesso principal da cidade. Na ocasião, o grupo de alunos(as) foi levado a encontrar respostas à seguinte pergunta, que norteou o passeio: “O que mudar e como mudar esse ambiente?”. O passeio recebeu o nome de Expedição Investigativa e foi organizado pela Pergunta Exploratória. Ao voltarem para a escola, foi proposto aos grupos que, coletivamente e por meio de diálogos, iniciassem a discussão sobre o que chamou a atenção no passeio no ambiente em que visitaram. O trabalho se iniciou com o Registro, a produção de materiais de exposição, orientados pelas professoras. Cartazes e desenhos foram construídos pelos(as)  alunos(as) no intuito de reproduzir aquilo que, de alguma forma, chamou a atenção do grupo na Expedição Investigativa. O resultado foi a percepção de que não havia beleza e atrativos para aqueles que chegavam e passavam pelo trevo da cidade.

Nesse momento, surgiram discussões sobre a possibilidade de mudar o cenário que não estava interessante aos olhos dos(as)  alunos(as) e, muito provavelmente, daqueles(as) que por ali passavam. O papel dos(as) professores(as) foi o de provocar a curiosidade e, naturalmente, ideias de como seria possível efetuar uma mudança significativa naquele espaço sem recursos financeiros. Foi então perceptível que o resultado da mediação das professoras trouxe, muito rapidamente, respostas positivas. Os(as)  alunos(as), coletivamente, tiveram a iniciativa de produzir textos informativos convidando a população da cidade a participar de uma campanha para arrecadação de mudas que pudessem colaborar para a construção de um belo jardim na entrada da cidade. Uma produção textual coletiva foi realizada e, foi distribuída pelos(as)  alunos(as) à comunidade.  

No intuito de fortalecer as disciplinas do currículo escolar, tendo como referência o objeto de interesse dos(as)  alunos(as), ou seja, o jardim do trevo da cidade, as disciplinas foram ganhando o formato do projeto. Da produção textual do material de divulgação à aula de ciências sobre o plantio das mudas, bem como as mudanças da geografia e da história daquele espaço que, em breve, seria alterado pela ação escolar de interesse dos(as)  alunos(as) e principalmente do aprendizado do grupo, foi possível perceber que a ação educativa ocorreu em ordem inversa àquilo que normalmente se costuma perceber na escola. Naquele momento, o interesse vinha dos(as)  alunos(as) e não dos(as) professores(as) e de seus planejamentos. O trabalho dos(as) professores(as) foi, inicialmente, escolher o território de exploração que, de certa forma, vinculava-se ao interesse do currículo escolar – nessa ocasião ao conteúdo de história – e, posteriormente, o de mediar o trabalho das crianças naquilo que elas próprias propunham realizar. Foi necessário, ao longo do projeto, reconhecer o papel da comunidade na construção do trabalho. Assim, sob mediação dos(as) professores(as), levantou-se o que se reconheceu como Comunidade de Aprendizagem. Iniciou-se, dessa forma, o envolvimento de maneira voluntária de pessoas da comunidade que puderam colaborar de modo significativo para a construção e manutenção do jardim que recebeu o nome de “Jardim Colaborativo”.

O plantio das mudas foi realizado pelos(as) próprios(as) alunos(as) sob orientação de uma voluntária, entendida como “apoiadora” no projeto “Jardim Colaborativo”.  Na ocasião, os  alunos e as alunas puderam ter uma aula de ciências sobre o plantio da mudas doadas pela comunidade, dada por uma arquiteta/urbanista que gentilmente cedeu seu tempo para participar do evento. O projeto contou ainda com a participação intensa de trabalhadores da prefeitura municipal, que construíram um canteiro em torno de uma placa que dá as boas vindas à cidade. Naquele momento, não só o jardim foi cuidado, como também houve uma grande limpeza no acesso principal, que pôde contar com uma reorganização geral nas regiões de acesso, pinturas das canaletas do meio fio e a poda das árvores que ali se encontravam.

Tal iniciativa desencadeou inúmeras aprendizagens aos(às) alunos(as), não somente aos envolvidos com o projeto, mas a todos, que de certa forma puderam reconhecer o papel dos(as)  alunos(as) e professores(as) engajados na ação. Importante salientar que todas as atividades desenvolvidas ao longo do projeto contaram com práticas lúdicas de ensino, bem como norteadas por motivações fundamentadas no diálogo dos envolvidos colocando os(as) aluno(as) como responsáveis pelas tomadas de decisão do que seria realizado. Indiscutivelmente, o papel da afetividade, instaurado nas relações professor(a)/aluno(a) e aluno(a)/aluno(a) cumpriu seu papel essencial, favorecendo ações educativas e aprendizagem significativa.

E ainda, no reconhecimento de que a afetividade, o diálogo e a construção coletiva do objeto de interesse dos(as)  alunos(as) seja papel fundamental para um trabalho escolar de sucesso, é que ainda consideramos que uma iniciativa, que envolva a comunidade em seus aspectos físicos e morais como possibilidade de aprendizagem sobre o assunto do projeto, possa colaborar para o sensação de pertencimento dos(as) alunos(as) nos espaços sociais em que circulam, não como futuros(as) cidadãos(ãs), que ainda crescerão e farão parte desses espaços, mas de pequenos(as) e possíveis agentes na construção e manutenção de espaços públicos que possam ser reconhecidos, já na infância, como seus, compreendidos de tal forma, via projetos de ensino, atravessados pelas disciplinas escolares e não o contrário.

Esse é um exemplo, dentre tanto outros, capazes de fortalecer e garantir a eficácia da metodologia de projetos do Programa A União Faz a Vida em que se observa a postura pró-ativa e cooperativa das crianças envolvidas. A mediação do(a) professor(a) nas etapas do projeto, colocando as crianças para protagonizar, tomando iniciativas nas ações e no que deva ser realizado ao longo do trabalho é o que confirma nossa inclinação em metodologias de trabalho que colaborarem efetivamente para a aprendizagem não apenas dos conteúdos prescritos no currículo escolar, mas também da educação emocional das crianças. Um trabalho que não apenas promete, mas cumpre com a proposta de se promover a formação integral de todos os envolvidos no Programa A União Faz a Vida.

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