Dia 2 de maio é celebrado o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, data estabelecida pela ONU. Estima-se que 1 a cada 160 crianças no mundo sejam autistas. No Brasil, acredita-se que tenha cerca de 2 milhões de autistas.

O autismo ou Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado por uma série de desafios com habilidades sociais, comportamentos repetitivos e comunicação. Não existe apenas um tipo de autismo, o TEA pode variar de grau, característica e sintomas. Por exemplo, existem muitos casos de crianças e adultos com autismo que possuem habilidades únicas como senso artístico extremamente avançado ou memória fora do normal.

Em entrevista à revista Espaço Aberto da USP, o Dr. Estevão Vadasz, professor do Instituto de Psiquiatria da USP, afirmou que:

“A criança no extremo do espectro tem seu comportamento bastante comprometido, enquanto a pessoa de grau leve pode ser extremamente brilhante.”

Em dezembro de 2012, alguns dos direitos dos autistas passaram a ser assegurados pela Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Entre outros aspectos, a legislação garante que os autistas possam frequentar escolas regulares e ter direito, se necessário, a um acompanhante para prestar assistência na escola (lembrando que essa pessoa deve estar lá apenas para fim de assistência e nunca para substituir a figura ou o papel do professor). Frequentar a escola normal é, inclusive, o mais recomendado, pois a interação social com crianças da mesma faixa etária pode ajudar no quadro de autismo.

Infelizmente, na prática, essa inclusão ainda é um pouco difícil. Apesar de ser proibido por lei que as escolas neguem a matrícula de algum aluno autista ou exijam qualquer tipo de laudo médico, isso ainda acontece. Ou então, a instituição que dá boas-vindas ao aluno não está totalmente preparada para orientar corretamente os educadores e professores quanto o desenvolver da pedagogia para esses estudantes.

Abaixo nós selecionamos 9 estratégias para facilitar a inclusão do aluno autista em sala de aula:

1. Recursos visuais para tarefas

As crianças autistas se comunicam com muito mais facilidade através de recursos visuais. Por isso, é importante que toda atividade seja mostrada como é feita.

Por exemplo, você quer que os brinquedos sejam guardados? Você pode colar na parede um passo a passo mostrando que depois da brincadeira, a sala deve ficar em ordem. Você também pode mostrar uma foto de como você quer que o ambiente fique.

O exemplo acima é para mostrar para a criança o que fazer caso ela se sinta triste/brava. Na imagem diz “O que fazer quando preciso me acalmar” e em seguida o passo a passo é escrito com imagens demonstrativas ao lado. Neste caso, escolher um local confortável para sentar, escolher um brinquedo, colocar a ampulheta para determinar o tempo e depois voltar a mesa para estudar. Outra dica é também rotular cada caixa de brinquedos ou espaço que tiver na sala de aula.

2. Faça um perfil da criança

Uma coisas que a escola pode fazer é montar um “perfil” da criança, para facilitar caso tenha trocas de professores. Esse perfil pode e deve ser feito em colaboração com os pais. Nele deve constar uma apresentação da criança, de coisas que ela gosta, coisas que a ajudam, coisas que a deixam triste (por exemplo, crianças autistas podem ter dificuldade em enfrentar longas esperas), coisas que a criança já sabe e consegue fazer bem sozinha e, por fim, se a criança for muito pequena, é bom mencionar também quais as habilidades comunicacionais que ela tem (por exemplo, “se eu quiser ir até algum lugar, eu vou levar um adulto até lá”, “eu choro quando fico bravo”, “Eu não uso muito contato visual”).

3. Rotina

A rotina é de extrema importância para crianças autistas, é o que dá a elas a sensação de segurança e estabilidade. Por isso, a dica é deixar um quadro na sala de aula com todas as atividades do dia anotadas, para que a criança saiba com antecedência o que será feito.

Na imagem acima temos um “quadro de horários visual”. Ele mostra todas as atividades do dia, artes manuais, aula de religião, aula de música, banheiro, intervalo, lanche, e etc., e indica qual atividade está acontecendo no momento e qual será a próxima. Se houver alguma mudança na rotina, o ideal é que o aluno seja avisado com antecedência.

Outra coisa que pode ser feita é sempre perguntar para os pais como foi o dia anterior da criança, dessa forma você pode antecipar mudanças no estado de ansiedade da crianças e se preparar melhor caso ela demonstre sinais de ansiedade durante o dia.

4. Cantinho para se acalmar

Caso a criança demonstre ansiedade ou birra, é importante, antes de tudo manter a calma. Depois, você pode tentar oferecer outros objetos para chamar a atenção da criança. Uma outra possibilidade é ter um “Cantinho da calma”, um local que a criança possa se sentar e se distrair com algum brinquedo antes de voltar para a aula.

Algumas escolas no exterior fazem o “Kit da Calma” com brinquedos sensoriais para a criança se distrair.

Kit da calma

5. Divida as tarefas por partes

Passar uma tonelada de exercícios pode assustar e desmotivar a criança. Por isso, tente passar 2 ou 3 exercícios de cada vez. Você também pode começar com exercícios mais fáceis ou que a criança goste mais de fazer antes de passar para os mais difíceis.

6. Tenha atividades extras sempre preparadas

Como todos os alunos, podem ter matérias em que os autistas tenham mais facilidade. Por exemplo, pode ser que seu aluno termine todos os exercícios de matemática bem antes que os demais. Nesse caso, é bom ter outros exercícios e atividades preparadas para evitar que ele se sinta entediado. Como mencionado antes, crianças autistas tendem a não lidar bem com longas esperas.

7. Mantenha a linguagem simples e direta

Evite frases longas. É mais efetivo dizer “Coloquem o lápis na carteira, fechem os cadernos e vão para o pátio” do que “ Está um dia lindo lá fora. Assim que vocês terminarem de escrever, nós vamos no pátio brincar”.

Se você der alguma instrução ou fizer uma pergunta e a criança não te responder ou não esboçar reação, tente reformular a frase. Evite também o uso de sarcasmo ou expressões idiomáticas, como “abram os seus ouvidos”, “não adianta chorar as pitangas”, “olha o passarinho”, e etc. Esse tipo de pensamento abstrato pode confundir a criança com autismo.

8. Diminua o leque de escolhas

Muitas possibilidades também pode causar confusão e sentimento de ansiedade na criança. Por isso, ao invés de perguntar o que ela quer fazer, limite as escolhas e pergunte se ela prefere brincar na quadra ou desenhar naquele momento.

9. Permita que a criança evite certas atividades

Se você reparar que a criança fica particularmente ansiosa, brava ou se mostra resistente a alguma atividade específica, como esportes, por exemplo, não obrigue ela a participar. Estimule-a a fazer outras atividades em grupo ou desenvolver outras habilidades.

Com essas dicas, a convivência em sala de aula se tornará mais produtiva e prazerosa, e a criança ficará mais integrada ao ambiente escolar e à convivência com os colegas.

Se na sua escola esse assunto não é discutido, busque informações com o diretor da escola e traga esse assunto para a pauta, mesmo que em sua escola não tenha nenhum aluno autista. Promover um ambiente de inclusão na escola é dever de todos.

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