Após a Segunda Guerra Mundial, a pediatra Húngara Emmi Pikler, dedicou-se a estudar de forma integral o comportamento de crianças de 0 a 3 anos e, a partir dos seus estudos, desenvolveu a Abordagem Pikler-Lóczy, que consiste em melhorar o desenvolvimento infantil através do cuidado com a saúde física, afetividade e respeito à individualidade e autonomia de cada criança. Segundo os estudos, crianças que passam por essa experiência crescem para se tornar adultos mais desenvolvidos em habilidades motoras.
Os estudos de Pikler começaram com a fundação do Instituto Lóczy (nome da rua onde o Instituto ficava), que funcionava como um orfanato para bebês e crianças pequenas. Hoje em dia, o Instituto é conhecido como Instituto Pikler e se transformou em uma creche onde ainda são conduzidos estudos e pesquisas sobre a primeira infância. O Instituto é dirigido pela psicóloga infantil Anna Tardos, filha de Emmi Pikler.
Quais são as principais filosofias da Abordagem Pikler-Lóczy?
Existem dois aspectos principais da Abordagem Pikler-Lóczy. O primeiro é a criação de um profundo vínculo afetivo entre crianças e pais/educadores, enquanto o segundo é o princípio do livre brincar.
O aspecto afetivo é necessário para que a criança se sinta segura e confortável para que, posteriormente, possa ser colocada no chão junto com as demais crianças e, por si só, possa explorar as movimentações do seu corpo.
Vínculo afetivo
O Instituto propõe que cada criança pequena deve ser vista como uma pessoa capaz de compreender o que acontece à sua volta. Dentro dessa abordagem, considera-se que a criança passa a conhecer o seu corpo por meio das coisas que ela é capaz de fazer e por meio da forma como outras pessoas tocam o seu corpo quando cuidam dela, a alimentam, a trocam, e etc. Por isso, criar um vínculo afetivo com professores e família é tão importante.
Além de um olhar atento e um toque cuidadoso e carinhoso, a abordagem incentiva também a fala constante. Imagine se alguém tocasse no seu nariz, por exemplo, sem nenhum aviso prévio. Você se assustaria e acharia esquisito, certo? Para Emmi Pikler, o mesmo é válido para os bebês. Por isso, recomenda-se que seja sempre avisado para o bebê o que será feito e que aguarde alguma resposta dele, como um movimento da cabeça. É importante também sempre manter o contato visual com a criança durante esses diálogos, como forma de aprofundar o vínculo que está sendo criado.
Esse gesto deve ser repetido em todos os momentos de alimentação, higiene e sono. A frequência, o ritmo e o tempo de cada atividade deve ser determinado em função da observação da criança: cansaço, apetite, fase de desenvolvimento, e etc.
Nos materiais elaborados por Pikler, existem instruções precisas sobre como levantar os bebês do berço, como segurá-los e como colocá-los de volta no berço. Os gestos devem ser sempre delicados, respeitosos e cuidadosos.
Livre brincar
Segundo Pikler, é preciso respeitar e incentivar todas as manifestações espontâneas dos bebês e deixá-los livres para descobrir movimentos e espaços por si só. Dessa forma, a criança pode desenvolver a parte motora, cognitiva e autonomia.
Enquanto aprende a contorcer o abdômen, rolar, rastejar, sentar, ficar de pé e andar, (o bebê) não apenas está aprendendo aqueles movimentos como também o seu modo de aprendizado. Ele aprende a fazer algo por si próprio, aprende a ser interessado, a tentar, a experimentar. Ele aprende a superar dificuldades. Ele passa a conhecer a alegria e a satisfação derivadas desse sucesso, o resultado de sua paciência e persistência.
– Emma Pikler
A criança ter a sensação de “eu consegui”, “essa conquista foi minha” é muito importante para o desenvolvimento dela. Neste ambiente o adulto não deve intervir de forma alguma na atividade da criança. Seja para ajudá-la em suas ações ou para impor alguma atividade. Por exemplo, se a criança está engatinhando tentando alcançar um brinquedo, você deve deixá-la fazer isso, ao invés de pegá-la no colo para levá-la até o brinquedo ou trazer o brinquedo para ela. Se você faz isso, você mina a autonomia da criança.
A criança, no entanto, nunca é abandonada. Apesar de ter que evitar a interferência, sempre deve ter alguma professora por perto. É essencial que a professora organize o ambiente de forma a incentivar a exploração do espaço, o tateio por objetos e os movimentos corporais. Deve-se transformar o ambiente de acordo com a evolução da criança, a fim de favorecer ao máximo as possibilidades de atividade, assim como sua autonomia para realizar um número cada vez maior de movimentos.
Confira no vídeo abaixo a entrevista do Dr. Roger Hansen, que ministra workshops sobre a técnica no Brasil, para entender um pouco mais dos conceitos estipulados pelo Instituto Pikler-Lóczy.
Você pode baixar gratuitamente o guia da Abordagem Pikler-Lóczy (em espanhol) clicando aqui.
O tema desse artigo foi sugerido pela Andrea, uma leitora do Transformando. Tem algum tema que você gostaria de ler aqui? Mande um email para nós!