“Meu caminho em direção à verdade consiste em saber fazer as perguntas certas.” (Sócrates)
Grandes pensadores também são grandes perguntadores e, movidos pela curiosidade, querem sempre descobrir o porquê das coisas – abstratas ou não. Sócrates foi um mestre perguntador, chegava a irritar os interlocutores quando os encurralava com suas questões, uma após a outra, como um boxeador que leva ao canto do ringue o seu oponente e lhe desfere golpes em cima de golpes, até o nocaute, nesse caso – o surgimento do insight. A história registra que muitos dos seus amigos não gostavam das suas inquisições e tentavam se esquivar porque as perguntas os obrigavam a pensar em profundidade. Mas, ao final, acabavam por concordar com o método, porque a linha de raciocínio imposta pelo filósofo tornava clara as questões mais complicadas. O filósofo dizia não haver uma só pergunta para um problema, mas várias, e que era preciso encontrar a pergunta certa para se conseguir o resultado correto.
Outra filósofa, essa mais contemporânea, Hannah Arendt, ficava horas formulando perguntas a si mesma buscando respostas para suas questões, principalmente as políticas. Ela dizia que conversava consigo mesma em total concentração, porque eram nesses diálogos (di-dois; logos-pensamentos) que podia fazer as perguntas mais impossíveis e encontrar as respostas mais assustadoras.
Não devemos ter receio de fazer perguntas, principalmente as consideradas idiotas e impertinentes, pois são elas as mais preciosas e abrem o caminho para a criatividade. Quando o fluxo criativo, em um trabalho de geração de ideias – brainstorm, deixa de produzir novos insights, o melhor a fazer é formular estes tipos de perguntas ao grupo. Para quem não está acostumado, de início, há certo estranhamento, mas a pergunta quando bem colocada irá gerar outras e dessas as melhores soluções. Já as perguntas impertinentes, dessas que ninguém quer fazer, cria-se, inicialmente, um choque no interlocutor e o obriga a pensar sobre aquilo que não quer. Para que não te considerem idiota ou impertinente ao formular tais perguntas, diga antes: vou fazer uma pergunta idiota ou impertinente e, a partir daí, deixe o fluxo rolar.
O pessoal de marketing diz que estão mais no ramo das perguntas do que no das respostas e que estas estão dentro das próprias empresas: nas cabeças, nas ações dos seus colaboradores e nos procedimentos e sistemas adotados. O que um marqueteiro faz é expô-las, uma a uma, até se chegar às soluções desejadas. À maneira de Sócrates, ele vai conduzindo o raciocínio até alcançar o resultado pretendido. O olhar de alguém de fora dos problemas enxerga-os com mais clareza e, por meio de perguntas, encontra com mais facilidade as soluções.
São as perguntas que deflagram o processo do aprendizado e estimulam a investigação, por isso, nas escolas, principalmente no ensino básico e fundamental, é importante estimular o espírito da curiosidade nas crianças. Elas já são perguntadoras e curiosas por natureza, cabe aos mestres e aos pais estimular cada vez mais esta característica. Um famoso escritor contou que sempre que chegava da escola o seu pai lhe perguntava se havia feito boas perguntas nas aulas e não dado boas respostas. Foi isso que criou nele o espírito investigativo, muito útil na sua profissão de escrever.
Algumas perguntas nunca terão respostas: de onde vim, qual o sentido da vida, o que havia antes no universo… e, a famosa “to be, or not to be, that’s the question” – sem resposta desde que o príncipe da Dinamarca a formulou e imortalizou na peça Hamlet.
Texto por Eloi Zanetti