Quando falamos sobre a inclusão de crianças diagnosticadas com TEA (Transtorno do Espectro Autista) no ambiente escolar, é preciso pensar também nos professores e equipe multidisciplinar que, muitas vezes, podem não estar preparados para receber alunos com autismo. Além de exigir um atendimento individualizado, essas crianças precisam de atenção e estratégias personalizadas para o aprendizado.
Especialmente nos primeiros anos da educação, é papel do professor promover o contato inicial da criança com a sala de aula e incluí-la nas atividades e brincadeiras com outros alunos.
Crianças com autismo e o ensino à distância
A pandemia, que teve início em março de 2020, trouxe inúmeros desafios aos professores. De uma hora para a outra foi preciso reinventar os meios de compartilhar conhecimento e adaptar-se ao formato virtual de aprendizagem. Quando falamos de alunos com TEA, esse cenário fica ainda mais complicado.
Segundo a consultora pedagógica do Sistema Positivo de Ensino, Wania Emerich Burmester, “a comunicação por meio da tela geralmente é prejudicada, pois em geral as crianças se apoiam em observações e percepções que vão além da fala do professor: envolvem os gestos, os movimentos, as sensações diferentes que compõem o ambiente e a tela limita muito essa percepção”.
Wania cita ainda a importância do PEI (Plano de Ensino Individualizado), para crianças com espectro autista, feito no início do ano, que vai se moldando conforme o desenvolvimento da criança: “Por meio da tela, essa percepção do professor também é prejudicada, por isso, manter o contato com os familiares e entender como o aluno está reagindo às aulas é importante. Muitas vezes as atividades devem ser adaptadas, pois a criança não acompanha o conteúdo exatamente como está no material didático. Sendo assim, a professora precisa orientar a família sobre como proceder em cada tarefa”. A consultora pedagógica lembra ainda que, em sua maioria, esses familiares não têm formação em educação e, no geral, estão trabalhando em regime de home office, com pouco tempo para se dedicarem e acompanharem os filhos nas aulas.
Mudança de rotina
Crianças, no geral, necessitam de rotina. Quando falamos de crianças com TEA, isso fica ainda mais evidente, pois elas têm a necessidade de saber antecipadamente tudo o que vai acontecer. Elas estavam acostumadas com um dia a dia comum: acordar, tomar café da manhã e ir para a escola no período da manhã ou da tarde. Para elas é muito claro que lugar de estudo é na escola e casa é um ambiente familiar direcionado a outras atividades. Quando essa rotina fica bagunçada, pode gerar crises de ansiedade e agressividade nas crianças com autismo.
Por outro lado, como uma das maiores dificuldades em alunos com TEA é a interação e as relações interpessoais, o ensino à distância pode deixar a aprendizagem mais tranquila e proveitosa a estes alunos. Veja o que diz Wania sobre esse ponto específico:
“É preciso considerar que cada criança é uma criança, cada caso é um caso. O desempenho escolar em situações diversas pode variar muito por causa de outras síndromes, dificuldades associadas, ou mesmo pelas características individuais de cada um. Temos ouvido muito falar sobre as dificuldades que crianças com autismo vem apresentando no ensino remoto, mas existem casos de crianças que, com o mesmo diagnóstico, apresentam melhor desempenho no ensino remoto do que no ambiente escolar, visto que muitas vezes, em alguns casos em especial, nos assuntos de interesse da criança, algumas delas podem ter mais concentração e compreensão no ambiente virtual.”
Atividades além da escola
Como falamos anteriormente, a participação da família é fundamental no processo de aprendizagem da criança atípica, sobretudo durante a pandemia. Depois de mais de um ano em isolamento social, home office e ensino remoto, muitos pais e responsáveis têm relatado cansaço e esgotamento ao preparar atividades que estimulem o desenvolvimento de seus filhos com TEA. Muitos deles acabam procurando a escola, ou diretamente os professores, a fim de buscar soluções e alternativas para manter a calma e diminuir o estresse em casa. Para ajudar essas famílias, você pode sugerir conteúdos, como o da Mayra Gaiato, psicóloga infantil especialista em autismo e neurocientista. No vídeo abaixo ela indica algumas atividades para acrescentar na rotina dos pequenos.
O papel dos colegas na inclusão de alunos com TEA
Outra parte fundamental na inclusão de alunos com TEA é fazer com que as crianças participem dos processos e atividades, acolhendo e entendendo os comportamentos de crianças atípicas. Alunos com transtornos podem ser mais suscetíveis a sofrerem bullying ou serem excluídos de jogos e brincadeiras. Realizar atividades em conjunto e explicar sobre a diversidade é de extrema importância desde os primeiros anos. Muitas vezes surgem perguntas, questionamentos e até mesmo comentários que podem ser ofensivos. Nesses casos, vale sempre conversar com a turma sobre as diferenças, as potencialidades de cada um e reafirmar que crianças com autismo devem ser respeitadas e apoiadas sempre.
A inclusão é um direito
Alunos com TEA precisam de apoio e inclusão, não somente na sala de aula, como na sociedade. Sendo assim, as escolas, bem como os profissionais da educação, não podem oferecer métodos padronizados e excludentes àqueles que não conseguem acompanhar o fluxo. É preciso estar preparado para lidar com a diversidade na hora de preparar aulas e materiais de estudo. Lembramos que a inclusão de alunos com TEA é um direito previsto na constituição. Confira abaixo algumas das leis que garantem o direito à educação aos alunos com autismo:
– Art. 205 da Constituição Federal: prevê a educação como um direito de todos;
– Art. 206, inciso I: estabelece igualdade de condições de acesso e permanência na escola;
– Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº9.394/96), nos Arts. 58 e 59: oferecem respaldo para que o ensino da pessoa com deficiência (e que apresenta necessidades educacionais especiais) seja ministrado no ensino regular, preferencialmente, assim como em decretos e documentos;
– Art. 1º, no § 2º, da Lei nº 12.764/12: institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com TEA, designando acesso à educação com as adaptações cabíveis que contemplem suas necessidades.