Confira as principais diferenças entre o ensino de finanças nas escolas brasileiras e canadenses

Somando o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, um jovem frequenta 12 anos de escola. Nesse período, ele é obrigado a memorizar uma montanha de atos, fatos e datas cuja utilidade para a vida real é restrita, enquanto a escola praticamente ignora o assunto “dinheiro” e o mundo das finanças.

Por razões não sabidas, os formuladores das políticas educacionais nunca explicaram por quais motivos dão mais importância a nomes de reis e rainhas do que a noções de comércio, finanças, tributos e contratos, mesmo sabendo que desses assuntos ninguém ​​rigorosamente ninguém escapa.

Ao adentrar o século XXI, a necessidade de educação financeira nas escolas, desde os primeiros anos da infância, começou a ser debatida e,  timidamente, o tema adentrou as escolas no mundo inteiro. Mas, nos últimos 10 anos, essa preocupação perdeu força.  

A educação financeira não é e não precisa ser uma disciplina isolada no currículo escolar. Ela pode e deve ser ensinada de forma transversal, ou seja, seus temas devem estar em disciplinas como matemática, ciências, meio ambiente, noções de Direito, vida social, psicologia comportamental, economia doméstica, empreendedorismo, entre outras.

Em viagem que fiz ao Canadá, busquei informações sobre como esse assunto é tratado por eles e descobri que as soluções têm relação tanto com as vantagens quanto com os desafios de ser país vizinho dos Estados Unidos.  

Dado que é fácil para a economia dos EUA vender bens e serviços no Canadá, a economia canadense sofre a concorrência de empresas norte-americanas, as quais têm produtividade (produto por hora trabalhada) maior que o sistema produtivo canadense.

Esse fato levou o Canadá a estabelecer a meta de aumentar a produtividade de sua economia para competir com os produtos fabricados nos Estados Unidos. Assim, o Canadá produziu um plano de metas para 50 anos, que incluiu a aplicação de forte educação financeira ao longo de toda a educação básica. 

Desde a Educação Infantil, as crianças canadenses têm contato com noções de comércio, finanças, tributos, contratos e empreendedorismo, com materiais didáticos adaptados às idades e ao percurso da criança até a conclusão do Ensino Médio, por volta dos 17 anos de idade. 

Comparando o que vi no Canadá com o cenário brasileiro, é fato que  as escolas públicas e privadas no Brasil começaram a levar a educação financeira em todos os níveis da educação básica, porém com atraso e de maneira incompleta.

Esse movimento até cresceu, porém, com duas ressalvas: a primeira se refere à baixa qualidade dos materiais e à eficiência do ensino; a segunda, à falta de homogeneidade entre as escolas de educação básica no Brasil.

Com 5.570 municípios cerca de 2.494 têm menos de 10 mil habitantes o Brasil é profundamente desigual. Por isso, é difícil obter sucesso em qualquer programa educacional que abranja todo o território nacional.

O Canadá também tem grande extensão territorial, porém grande parte não é habitável, e a população canadense não chega a 20% da brasileira. Além disso, os canadenses não têm os mesmos níveis de desigualdade de renda daqui, o que facilita a padronização da que há no Brasil, de forma que é bem mais fácil homogeneizar a educação no país. Por tudo isso, o desafio persiste e exige atenção constante de educadores e formuladores de políticas públicas.

José Pio Martins é economista, professor, palestrante e consultor de economia, finanças e investimentos.

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