Por José Pio Martins
Nos anos difíceis de 2020, 2021 e parte de 2022, a pandemia do coronavírus lançou a humanidade em um dilema: parar tudo e ficar em casa ou continuar trabalhando e produzindo o que é necessário para viver. De início, surgiu uma falsa questão: deveríamos priorizar a vida ou a economia? Essa pergunta ecoou no mundo inteiro.
Se todos os habitantes do país parassem, rapidamente não teríamos fornecimento de energia, água, gás, medicamentos, alimentos e outros produtos sem os quais o ser humano não sobrevive. A opção nunca foi “parar tudo ou não parar”, pois não existe mágica capaz de prover os bens e serviços mínimos necessários para a vida continuar existindo.
A economia só existe porque os seres humanos têm necessidades vitais, a começar pelas mais óbvias: alimento, abrigo e repouso. Quem produz os bens e serviços para satisfazer essas necessidades são as mesmas pessoas que irão consumi-los. Logo, a opção “parar tudo” não é viável.
A economia é um sistema que produz bens e serviços para atender às múltiplas e ilimitadas necessidades dos seres humanos, a partir da transformação dos recursos naturais, que são escassos.
Para ensinar economia a uma criança, sugiro o seguinte ritual: quando ela sentar-se à mesa para o café da manhã, pergunte: ”Você sabe como todas essas coisas chegaram até aqui? O leite, o pão, o queijo, a manteiga, o garfo, a faca, a xícara, a toalha, o fogão, a própria mesa etc.
Aponte para o leite e a caixa que o embala e pergunte se a criança tem ideia de quantas atividades e tarefas o mundo teve que executar para que aquela caixa com leite estivesse ali sobre a mesa.
Explique a ela o caminho inverso do produto. O leite vai para a geladeira (explique o processo de fabricação de uma geladeira), depois volta ao supermercado (explique como surgiu o supermercado), e, a seguir, ao caminhão que transportou o leite da indústria. Volte até a fazenda onde as vacas estão, como o leite foi retirado e transportado, e assim por diante.
Diga à criança para pensar sobre como foram feitas a estrada, a fábrica de laticínios e o processo de industrialização do leite e de sua embalagem, para que aquela simples caixa chegue até a mesa todos os dias.
Além disso, peça para refletir sobre a complexidade do processo de produção de tudo o que está diante de seus olhos. Talvez você mesmo tenha um choque ao compreender o quanto o mundo precisa fazer para que você tenha sua refeição de manhã.
Enfim, a economia é uma ciência da vida; não se resume apenas a dinheiro, como muitos pensam. Compreender tudo o que é necessário para obter um simples café da manhã é o primeiro passo para entender a complexidade de um sistema econômico.
José Pio Martins é economista, professor, palestrante e consultor de economia, finanças e investimentos.