Em 2016, a Universidade de Central Connecticut State, nos Estados Unidos, elaborou o chamado World’s Most Literate Nations (As Nações mais Alfabetizadas do Mundo), um relatório com o atual estágio da educação mundial. O Brasil ficou em 1º lugar em relação ao número proporcional de alunos na escola e ao PIB destinado à educação. Mas ficou na 55ª posição, entre 61 países, em relação à qualidade do ensino.

De acordo com uma pesquisa feita pela Fundação Lemann, Instituto Credit Suisse Hedging-Griffo e Itaú BBA, das 215 escolas que atendem alunos com baixo nível econômico e que foram consideradas excelentes em 2011, apenas 31 delas conseguiram manter esse título de excelência de ensino ao longo de três anos.  Dessas escolas, só quatro fazem parte da rede estadual, o restante faz parte da rede  municipal.

A maior parte das escolas contempladas na pesquisa estão no estado do Ceará. Destacam-se em especial as escolas dos municípios de Sobral e Brejo Santo, no sertão cearense. Ambos os municípios sofrem com casos de pobreza extrema e desigualdade. Em Brejo Santo, a renda média per capita é de R$ 350,00 mensais, proveniente, geralmente, da agricultura familiar. E 90% da população da região é depende de programas do governo, como o Bolsa Família.

Veja abaixo como essas escolas conseguiram driblar a falta de recursos e tecnologia, e obter um dos melhores desempenhos nacionais.

Brejo Santo

Em 2016, a escola Maria Leite de Araújo tirou a maior nota do Brasil, 9,6, em português e matemática para o primeiro ciclo do fundamental. Segundo o município, esse resultado foi alcançado colocando o básico em primeiro lugar:

Alimentação

Em uma comunidade extremamente pobre, onde as crianças chegavam a desmaiar em sala de aula por falta de comida, prover uma boa alimentação fez toda a diferença. A escola passou a fornecer um café da manhã para as crianças tomarem quando chegarem na escola, uma medida muito importante, considerando que, às vezes, a refeição na escola é a única que elas vão ter no dia. Além dessa refeição, elas também recebem um almoço na hora do recreio. A matéria-prima vem dos agricultores do município, garantindo a qualidade das frutas e verduras e girando a economia local.

Acompanhamento pedagógico constante

A coordenação da escola passou a visitar os alunos que estavam faltando para entender o motivo e a só permitir faltas mediante a justificativa dos pais. As crianças passaram a ser avaliadas por suas competências e o ensino se tornou um pouco mais personalizado. Se algum aluno está para trás em alguma matéria, os professores se prontificam para dar aula de reforço e nivelar o aluno com os demais da sala.

Incentivo através de atividades e brincadeiras

Uma solução encontrada para incentivar o aprendizado e manter os alunos engajados, foi a utilização de brincadeiras e competições. No intervalo, as crianças se juntam ao redor de uma árvore no pátio para ouvir e contar histórias. Outros exemplos de atividades são as olimpíadas de matemática, concursos de redação e gincanas de astronomia. Os alunos são constantemente incentivados a desenvolverem projetos como, por exemplo, um foguete feito com materiais recicláveis.

Em 2007, 39% das crianças entre 7 e 8 anos saíam dos primeiros anos do ensino fundamental sem saber ler nem escrever, em 2014 esse percentual caiu para 6%. Foram em iniciativas como as de Brejo Santo que o Estado viu o seu Ideb evoluir de 3,5 para 5,2 nos estágios iniciais do ensino fundamental. As mudanças feitas em Brejo Santo só foram possíveis graças à experiências prévias feitas na cidade de Sobral, que serviu como modelo para a revolução educacional no Estado.

Sobral

Sendo a segunda cidade mais desenvolvida do Ceará, Sobral é considerada a cidade com a melhor educação básica do Brasil inteiro.

A revolução educacional da cidade começou há mais de 20 anos, quando foram estruturados programas para qualificar professores e coordenadores, e os critérios para a seleção de docentes passaram a ser mais rígidos e pautados na meritocracia.

Reformas constantes no currículo e investimento no ensino continuado dos professores é o que faz de Sobral referência nacional em educação. Além do foco na valorização do professor, o município fez como prioridade erradicar o analfabetismo e diminuir a evasão escolar. Dentro das salas de aulas, As práticas são similares àquelas adotadas por Brejo Santo.

Ambas as escolas nos mostram que não é necessário quantidades excepcionais de investimento ou tecnologia de ponta para conseguir transformar a educação em um plano de gestão que prioriza o básico, valoriza os professores e cuide para que seja implementado da maneira correta, de nada adianta o planejamento sem a execução.

A revolução educacional pode começar pelos próprios educadores e coordenadores, desenvolvendo projetos, gincanas e competições em sala de aula para incrementar o currículo e estimular o aprendizado. Transformar o ensino não precisa ser uma tarefa difícil, mas precisa ser colaborativa e feita com determinação. Construir um ensino de qualidade em situações de adversidade é sim possível.

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