“Toda educação é autoeducação e nós, como professores e educadores, somos, em realidade, apenas o ambiente da criança educando-se a si própria. Devemos criar o mais propício ambiente para que a criança se eduque junto a nós, da maneira como ela precisa educar-se por meio de seu destino interior.”

A frase acima foi dita por Rudolph Steiner, considerado o pai da antroposofia (uma doutrina filosófica que amplia o conhecimento obtido pelo método científico convencional para o espiritual) e criador da metodologia de ensino Waldorf. Você provavelmente já deve ter ouvido falar sobre a Pedagogia Waldorf, mas talvez nunca tenha entendido totalmente os seus benefícios ou como essa metodologia funciona na prática. Neste artigo iremos explicar um pouquinho dessa técnica de ensino que anda conquistando cada vez mais educadores, educandos e pais no mundo todo.

A origem da metodologia Waldorf deu-se no ano de 1919, em Stuttgart, Alemanha. O primeiro “teste”, por assim dizer, que Steiner fez dessa técnica aconteceu em uma escola frequentada pelos os filhos dos operários da fábrica de cigarros Waldorf-Astória (por isso o nome da metodologia). Atualmente, são mais de 2940 escolas que seguem a Pedagogia Waldorf, espalhadas em mais de 64 países. A grande aderência à essa pedagogia, faz com que ela seja considerada um dos maiores movimentos educacionais independentes do mundo.

A premissa básica do ensino Waldorf é a educação para a liberdade, visando desenvolver de forma holística o físico, o espiritual, o artístico e o intelectual, a fim de criar cidadãos altamente integrados, competentes e responsáveis. O desenvolvimento da sensibilidade artística e do amor à natureza também são altamente priorizados na Pedagogia Waldorf.

Dentro dessa Pedagogia, o currículo do MEC (Ministério da Educação) é seguido à risca, porém a forma e a intensidade com que as matérias são aplicadas são completamente diferentes das escolas tradicionais, e os professores têm total autonomia para decidir como o conteúdo será dado. A ideia é que a criança, de forma orgânica, comece a aprender sobre os mais diversos assuntos conforme ela vá reconhecendo dentro de si as experiências para as quais está preparada para viver. Por exemplo, quando a criança chega na idade em que começa a se questionar sobre sua origem é que ela começa a aprender sobre a criação do mundo. Já antes da pré-adolescência, para auxiliar neste questionamento, às crianças são ensinadas mitologia nórdica, preparando-as para o rito de passagem à adolescência. O importante é que desde o início a curiosidade seja estimulada para que, aos poucos, seja ensinado a linguagem, a ciência e os números.

A abordagem utilizada pelos educadores leva em conta as diferentes características dos estudantes segundo sua idade aproximada. O ensino é dado de acordo com essas características: um mesmo assunto nunca é dado da mesma maneira em idades diferentes.

Mas e na prática? Como funciona?

A Pedagogia Waldorf é pautada em 5 conceitos básicos:

  1. antropologia evolutiva: nada mais é do que o conceito explicado acima, de que a criança de forma natural e livre de imposições aprenda sobre os mais diversos conteúdos;
  2. sensibilidade artística;
  3. amor à natureza: é bastante valorizado o aprendizado da agricultura e o cultivo de alimentos orgânicos;
  4. ênfase em tarefas manuais: por exemplo, se as crianças vão realizar uma peça de teatro, é esperado que toda a estrutura, cenário e adereços sejam produzidos pelas crianças;
  5. exercício constante a imaginação: dentro do método Waldorf, o conto de fadas é muito utilizado tanto para o aprendizado da linguagem quanto para a compreensão das emoções.

Além disso, aprender outros idiomas também é importante no currículo das escolas Waldorf. O inglês e o alemão são ensinados desde o primeiro ano do ensino fundamental.

A separação de conteúdos e etapas na escola ocorre em ciclos de 7 anos. No primeiro ciclo, dos 0 aos 7 anos, as crianças aprendem de forma lúdica através das brincadeiras e jogos. O objetivo é que sejam estimulados os sentidos, a fantasia e a imaginação de cada criança. Nesse período não lhes ensinam a ler nem a escrever – a alfabetização se dá no primeiro ano do fundamental. O “agir”, o “sentir” e o “pensar” são cultivados em todas as aulas através de atividades físicas, artísticas e que exercitem a imaginação.

O fato de não se exigir esse “pensamento intelectual” muito cedo é uma das principais características da Pedagogia Waldorf que diverge dos métodos tradicionais. O computador, por exemplo, por ser considerado uma ferramenta que força um pensamento lógico/intelectual, não é utilizado pelas escolas Waldorf antes do ensino médio.

E quais os benefícios que esse método traz?

Em um estudo conduzidos pelos pesquisadores Douglas Gerwin e David Mitchell com 550 ex-alunos de escolas Waldorf nos Estados Unidos e Canadá, foi constatado que:

  • os graduados por escolas Waldorf tendem a ser mais flexíveis, criativos e propensos a tomar mais riscos intelectuais;
  • conseguem facilmente integrar assuntos que à primeira vista parecem não serem relacionados com claridade e coragem;
  • possuem um senso estético apurado;
  • valorizam mais as relações humanas e tendem a querer ajudar mais os outros;
  • sentem que possuem um forte compasso moral que os ajuda a lidar melhor com desafios na vida profissional e pessoal;
  • tendem a ser mais autoconfiantes e se expressarem melhor.

Uma ex-aluna descreve que, na faculdade onde estuda atualmente, ela pode facilmente “explicar para os meus colegas o que acontece quando um ácido em particular e uma certa base se misturam, pois testamos essas misturas no ensino médio enquanto os outros apenas aprenderam lendo livros. Sou constantemente perguntada por amigos sobre como eu sei as coisas que eu sei, mas não é que conheço mais fatos do que eles, e sim que eu consigo me lembrar do que eu aprendi e sei conectar e relacionar os fatos com o que estou fazendo”.

No Brasil estima-se que tenha cerca 73 escolas Waldorf reconhecidas pela Federação das Escolas Waldorf, com 2050 professores e 2500 alunos de jardim de infância, 4180 alunos no ensino fundamental, 580 alunos no ensino médio.

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      1. Gostei. Quando leio esse tipo de artigo eu me renovo, pois alimenta minha alma de esperança e de vontade de ir além do que estou fazendo. Vejo outras possibilidades que enriquecem minha postura e minha prática de educador, emfim, melhora meu olhar e meu jeito de fazer. Muito bom!

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