Pode ser que primeiros socorros vire uma matéria obrigatória nas escolas brasileiras. Em setembro deste ano (2017), a Comissão de Educação, Cultura e Esporte aprovou uma proposta que determina que alunos do ensino fundamental e médio tenham aulas de primeiro socorros obrigatórias na grade horária.
De acordo com o texto da nova lei, o ensino teórico-prático de primeiros socorros, com ênfase no treinamento em ressuscitação cardiopulmonar, deverá fazer parte do currículo da educação básica. O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), autor da proposta, defende que a disciplina seja ministrada na segunda fase do ensino fundamental e no primeiro ano do ensino médio. Para Caiado, discute-se no mundo todo a necessidade de prestar treinamento na área de resgate de emergência e em ressuscitação cardiopulmonar como forma de salvar vidas e evitar sequelas permanentes. O objetivo da nova lei é de reduzir perdas humanas e mitigar males comuns a pessoas acidentadas se lhes for prestado um primeiro atendimento correto através da formação de cidadãos com conhecimentos eficazes de salvamento emergencial. O auxílio prestado por voluntários com experiência em resgate e emergência contribui para que o trabalho do Corpo de Bombeiros tenha mais chance de sucesso.
Uma emenda na lei sugere que, ao invés de incluir a matéria como uma disciplina a mais, tal conteúdo deva ser repassado dentro das aulas de educação física, afinal os professores de educação física são rotineiramente os primeiros a serem chamados para agir em caso de acidentes.
Mas quais seriam os principais impactos que essa lei teria dentro da escola?
No Brasil, anualmente, os acidentes são as maiores causas de morte entre crianças de 1 a 14 anos. A grande parte desses acidentes poderiam ter sido evitados com medidas preventivas.
Devido ao grande aglomerado de crianças e adolescentes, o ambiente escolar acaba se tornando propício à acidentes. Não existem dados claro que confirmem o número de acidentes sofridos dentro de escolas no Brasil, porém existem dados que apontam que 70% das mortes de crianças com menos de 1 ano ocorrem por sufocação e 34% das mortes de crianças entre 1 e 4 anos ocorrem por afogamento. Segundo uma pesquisa realizada pela ONG Criança Segura, todos os anos cerca de 4,5 mil crianças entre 1 e 14 anos morrem no país e outras 122 mil são hospitalizadas. Dessas 122 mil hospitalizações, quase 50% é em decorrência de quedas. O restante dos acidentes se divide em queimaduras, contato com objetos cortantes, acidentes de trânsito, entre outros.
Infelizmente, a maioria das escolas brasileiras sofre com a falta de um profissional da saúde em seu quadro colaborativo, o que pode agravar situações de acidente em que um pronto atendimento seria fundamental. Muitas vezes, nenhuma providência é tomada até a chegada da equipe de socorro ou são tomadas medidas consideradas inadequadas, que podem comprometer o estado da vítima.
Fora a prevenção de acidentes ocorridos dentro da escola, o ensino de primeiro socorros para os alunos pode ser de grande valia para a sociedade como um todo. Segundo dados da American Heart Association (Associação Americana do Coração), menos de 8% das vítimas de infarto conseguem sobreviver. Esse quadro poderia ser facilmente revertido se maioria da população soubesse como iniciar uma ressuscitação cardiopulmonar (RCP).
Estudos apontam que quanto mais alunos, funcionários e docentes forem treinados em primeiros socorros, maior a probabilidade de uma vítima de ataque cardíaco ser socorrida prontamente fora do ambiente hospitalar.
Um bom exemplo
O Colégio Duque de Caxias, na cidade de mesmo nome, no estado do Rio de Janeiro, é um exemplo de escola que viu os benefícios de ensinar prevenção de acidentes para os alunos.
Em 1990, o técnico em segurança do trabalho Orlandino dos Santos, morador da região, iniciou um trabalho voluntário para orientar os alunos sobre como mitigar riscos e melhorar a segurança escolar. A ideia deu certo e resultou na criação de uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) Escolar, que reúne alunos responsáveis por fazer o levantamento de riscos nos diversos ambientes e pensar em formas de evitá-los. Segundo Santos, em entrevista ao portal UOL:
“as comissões ajudam as escolas a criar uma cultura de prevenção generalizada, pois os alunos levam as práticas às suas casas e, posteriormente, aos seus ambientes de trabalho”.
Com lei ou sem lei, o que podemos fazer?
Existem algumas medidas básicas que podem e devem ser tomadas em todas as escolas para ajudar na prevenção de acidentes, são elas:
- criar a sua própria Comissão Interna para Prevenção de Acidentes (Cipa);
- analisar os riscos de acidentes para cada faixa etária;
- adaptar os espaços conforme os riscos;
- contar com brinquedos adequados a cada faixa etária;
- treinar alguns membros da equipe em primeiros socorros.
Ter um curso de primeiros socorros dentro da escola é de um benefício enorme para o sistema educacional e para a comunidade como um todo. Além de empoderar os colaboradores, treinar os alunos em prestar socorros é uma forma de ensinar o cuidado e a empatia com o próximo, entendendo que a saúde do outro também pode ser responsabilidade nossa.
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