Especialistas apontam novas formas de pensar a escola, que tem aluno como protagonista no processo de aprendizagem
Há um ano e meio, as escolas do Brasil fechavam para tentar conter a transmissão do coronavírus. De lá para cá, apesar das dificuldades, a pandemia impôs uma nova dinâmica ao ensino, e as adaptações feitas trouxeram transformações que devem permanecer. Esse foi o tema da roda de conversa on-line do Summit Educação, promovido pela Central Sicredi PR/SP/RJ, que reuniu a jornalista Marta Avancini, a escritora Ana Cardoso e o educador Audino Vilão. Os convidados mostraram possíveis caminhos para uma educação mais colaborativa e menos competitiva.
Qual seria a escola dos nossos sonhos?
Para a jornalista Marta Avancini, as instituições de ensino têm o papel importante de orientar, guiar e ajudar os jovens. “Só a educação é capaz de transformar sonhos em vida. Por isso, precisamos permitir que os estudantes sonhem com novas possibilidades e reconhecer que a pandemia provocou mudanças nos jovens”, comenta Marta.
Protagonismo dos alunos, maior participação de familiares, uso de tecnologia e reconhecimento do ser humano. Isso tudo faz parte da escola do futuro, de acordo com o educador e youtuber Marcelo Marques, conhecido na internet como Audino Vilão. “O professor é o atlas que sustenta a educação e os alunos. Por isso, ele assume a responsabilidade de olhar para o todo e, ao mesmo tempo, de entender as necessidades individuais. Mas, para estar próximo dos alunos, é preciso se renovar e estar atento às novidades”, comenta Audino.
Uma nova escola para novos alunos
Os jovens mudaram e, com eles, a forma de conviver com a tecnologia. Pesquisa do Datafolha, publicada em junho de 2021 e realizada a partir de entrevistas com pais de filhos de 6 até 18 anos, mostra que 89% dos jovens passaram a ficar mais tempo diante das telas. Isso explica a necessidade das escolas incorporarem tecnologias. O que ainda é uma realidade distante para alguns, uma vez que a internet não está presente em todas as escolas. O Censo Escolar 2020, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), revela que, enquanto 85% da rede particular de ensino possui internet, na rede municipal esse percentual é 52,7%.
Apesar da importância da tecnologia, agora é momento de reconquistar os adolescentes no retorno às escolas. A escritora Ana Cardoso, autora do best seller “A mamãe é rock”, acredita que o primeiro passo é uma educação mais humanizada. “Os alunos de agora querem e precisam de flexibilidade na escola. Não podemos assustá-los com a urgência de entrar na faculdade e escolher qual profissão seguir. Eles buscam a felicidade em um mundo com menos competitividade e mais colaboração”, relata Ana Cardoso, que é mãe de uma criança e de uma adolescente.
É necessário reconhecer que o aluno é protagonista da educação e ele está diferente por tudo que os momentos mais críticos da pandemia provocaram. Mas, as mudanças de metodologias de ensino não alteram o papel da escola na sociedade. “A instituição de ensino sempre deve cumprir a missão de introduzir valores e conhecimentos às novas gerações. Ao mesmo tempo que orienta e aponta caminhos, a escola deve permitir reflexões e pontos de vista diferentes. É preciso ensinar a serviço de um mundo mais democrático, inclusivo e solidário”, finaliza a jornalista Marta Avancini.
Como ter uma escola mais colaborativa?
Incentivar a colaboração dentro da escola passa por uma mudança na forma como entendemos o papel do professor, dos alunos e como ocorre a aprendizagem. Aulas mais colaborativas tendem a colocar o educador em uma posição de mediação e não de detentor do conhecimento. Alunos e educadores constroem juntos o aprendizado.
Ainda, metodologias colaborativas têm como benefícios:
- Personalização e individualização do ensino.
- Maior motivação dos alunos.
- Desenvolvimento de pensamento crítico.
- Melhores resultados de aprendizagem.
Para alcançar uma escola mais colaborativa e menos competitiva, é importante lembrar que as mudanças são mais profundas que apenas alterar a disposição das carteiras em sala de aula. Esse tipo de metodologia tem que fazer parte da proposta da escola, e a equipe docente deve participar de cursos e estar apta a conduzir o aprendizado.
O ensino colaborativo está cada vez mais em evidência, e pode ser encontrado em metodologias como a Freinet. Nesse método, o aprendizado dá mais autonomia e protagonismo aos alunos em uma escola muito similar à que sonhamos ter.
Iniciativa de sucesso
O Programa A União faz a Vida iniciou suas atividades em 1995, no município de Santo Cristo (RS), e atualmente é realizado em mais de 2,6 mil escolas de 475 municípios de todo o Brasil. O programa atua para despertar os princípios de cooperação e cidadania. O sucesso da iniciativa está aliado ao engajamento de vários integrantes da rede de compromisso formada pelo Sicredi, educadores, assessoria pedagógica, parceiros, apoiadores e gestores das escolas.
Nas escolas parceiras, a vivência da metodologia coloca o aluno como protagonista no processo de aprendizagem por meio das “expedições investigativas”, que são o ponto de partida para a definição dos temas dos projetos cooperativos. Os educadores formulam questões que orientam a visita ao território da investigação e os estudantes vão para a comunidade para observar, experimentar e descobrir o ambiente à sua volta. Após a expedição, os alunos definem, democraticamente, o projeto a ser realizado, escolhendo o tema sobre o qual querem conhecer mais.