Casos de violência, bullying e descompasso com o sofrimento dos alunos evidenciam um cenário alarmante para a imagem das instituições de ensino. Especialistas alertam: é hora de agir antes que a próxima crise estoure

Escolas no Brasil e no mundo têm enfrentado uma onda crescente de crises que colocam em risco não apenas a segurança da comunidade escolar, mas a própria reputação das instituições de ensino. Casos de violência extrema, episódios recorrentes de bullying, e a crescente exposição de erros institucionais nas redes sociais transformaram a gestão da reputação em um dos maiores desafios para diretores, mantenedores e profissionais da educação.

Segundo dados apresentados no painel “Crises de Reputação: Sua escola está preparada?”, durante a BETT Brasil 2025, somente no Brasil já foram registradas 47 vítimas fatais em ambientes escolares desde 2001, além de mais de 10 mil casos mensais de bullying em 2023. A violência no ambiente escolar teve um crescimento alarmante de 3.371 casos em 2013 para 13.117 em 2023.

“Vivemos um tempo em que as crises não apenas acontecem com mais frequência, mas se tornam públicas e virais em questão de horas. O impacto reputacional, especialmente em escolas, é direto na confiança da comunidade, na captação de alunos e até na sobrevivência da instituição”, afirma Lorena Nogaroli, gestora de riscos e crises e sócia da agência Central Press.

Crises que vão além dos muros da escola

O painel destacou ainda que os riscos à reputação escolar não se limitam aos muros da instituição. Epidemias, conflitos geopolíticos, mudanças climáticas e cibercrimes são exemplos de crises transfronteiriças que também afetam a imagem das escolas — exigindo preparo estratégico.

“O mundo mudou. E isso significa que os modelos de gestão escolar também precisam evoluir. A escola precisa estar preparada para responder a crises com a mesma agilidade com que educa. Isso exige plano, comitê, treinamento e um olhar sistêmico para os riscos”, pontua Lorena, autora do Guia de Gestão de Crises de Imagem para Instituições de Ensino.

A ilusão do ‘isso não acontece aqui’

Apesar dos alertas, uma parcela significativa das escolas ainda se mostra despreparada. Dados do INEP mostram que 40% das instituições sequer registram incidentes, o que revela, segundo os especialistas, um preocupante “descompasso entre o sofrimento dos alunos e o reconhecimento por parte da gestão escolar”.

“É comum ouvirmos ‘isso nunca aconteceu aqui’, até que aconteça. E quando a crise estoura, não é a hora de montar um plano: é a hora de executá-lo. O despreparo custa caro – emocional e financeiramente”, alerta Lorena.

Consequências além da sala de aula

O impacto de uma crise de reputação vai muito além da imagem institucional. Um levantamento da Oxford Metrica revela que empresas – incluindo escolas – podem perder até 30% de seu valor de mercado no curto prazo após uma crise mal gerida. No setor educacional, isso se traduz em evasão, queda na confiança, perda de patrocínios e dificuldades operacionais.

Hora de agir

A boa notícia é que há caminhos. A recomendação dos especialistas é clara: toda escola, mesmo as menores, deve investir na criação de um comitê de crises, mapear riscos prioritários, estabelecer planos de ação e treinar sua equipe com simulações regulares.

“Tratar a reputação como um ativo estratégico é o único caminho para garantir a perenidade das escolas. Crises vão acontecer – a diferença está em como cada instituição vai responder a elas. E isso pode fazer toda a diferença entre um episódio superado ou uma marca permanente”, conclui Lorena Nogaroli.

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