Mudança na escola começa pela formação de professores, valorização das diferenças e combate às desigualdades
É possível elaborar uma educação mais igualitária e antirracista desde a primeira infância? Um programa educacional antirracismo pode se tornar uma importante ferramenta na luta contra a discriminação étnico-racial dentro e fora do ambiente escolar.
O racismo estrutural na educação pode ser exemplificado com os indicadores de escolaridade da população. Os dados de 2018, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam uma desvantagem da população negra ou parda na formação escolar. Enquanto o analfabetismo para a população branca, com 15 anos ou mais, é de 3,9%, para negros ou pardos a taxa é 9,1%. Já a proporção de brancos que completaram o ensino médio, com 25 anos ou mais, alcança 55,8%. Ao passo que o índice é 40,3% entre negros ou pardos.
Ainda, o Brasil segue marcado pelo abismo racial. As desigualdades saem pelas portas da escola e alcançam a sociedade. Os negros sofrem mais com desemprego e redução de renda durante a covid-19. De acordo com o IBGE, a taxa de desemprego da população classificada como preta passou de 15,2% para 17,8% entre o primeiro e segundo trimestre de 2020. Entre os brancos, a desocupação foi de 9,8% para 10,4%.
Educação igualitária e antirracista no Summit Educação
Para refletir sobre isso, o Summit Educação, promovido pela Central Sicredi PR/SP/RJ, trouxe a educadora Clélia Rosa para uma conversa que abordou a importância de revolucionar e recriar o ensino.
A desigualdade escolar tem reflexos graves na sociedade, por isso, já está mais do que na hora de repensarmos a escola. É assim que a educadora Clélia Rosa se refere às necessidades urgentes da educação. “Temos que ter coragem para inovar, recontando outras histórias de corpo e alma brasileiras. Precisamos construir uma educação que dialogue com o restante do mundo, sem nunca deixar de reforçar a identidade do nosso país. A educação antirracista permite que justiça e sociedade caminhem juntas”, explica Clélia.
Mas não vamos recriar a escola sem passar pela formação de professores. De acordo com Clélia Rosa, é preciso estar sempre aberto à aprender e se relacionar com outras áreas do conhecimento. “Acredito que a educação é relação. É se relacionar com o nosso próprio não saber, assumindo que não temos conhecimento suficiente sobre um tema, e procurar estratégias para construir o saber”, salienta.
Como ser um agente de mudança?
Como levar mais igualdade e menos preconceito para dentro da sala de aula? Para a educadora Clélia Rosa, promover uma educação antirracista é responder a essa pergunta. “Um desafio é pensar nessa educação sistêmica, direcionando nossas práticas para construir estratégias e metodologias que valorizem as diferenças e combatam as desigualdades. A diferença deve ser abraçada, gerar convivência. A valorização das diferenças e o combate às desigualdades, são temas que precisam estar presentes na comunidade e atravessar os muros da escola”, reforça a educadora.
Vale lembrar: desde que a lei nº 10.639 foi aprovada em 2003, tornou-se obrigatória a abordagem da história e cultura afro-brasileira nos currículos letivos. Mas, mais que um assunto obrigatório, possibilitar uma educação mais igualitária e antirracista é uma questão humana.
Para levar o assunto para a sala de aula, você pode:
- Buscar filmes e livros que tenham personagens de diferentes etnias
- Apresentar e valorizar contribuições históricas feitas por pessoas de diferentes etnias e origens
- Tornar a inclusão e diversidade parte de todas as aulas, não apenas em aulas especiais
Ainda, é possível levar o debate racial para dentro das aulas, aproveitando o conteúdo dos livros e filmes trabalhados para conversar com os alunos e propor atividades relacionadas a eles.
Independentemente de como for incluir o tema nas aulas, é importante lembrar de respeitar as diferenças, levar em consideração todos os lados de uma história, mostrar aos seus alunos que você realmente se interessa por esse debate e estar atento a atitudes e falas preconceituosas que podem aparecer.
Quer mais dicas? Confira como abordar o racismo na educação infantil.