As cabeças das nossas crianças são espaços preparados para explorar conhecimento e desbravar inúmeras possibilidades de aprendizagem no dia a dia. E mais do que informações técnicas referentes às grades letivas, é fundamental que possamos trabalhar com elas temas e valores que contribuam para a sua formação cidadã. Por isso, motivados pela importância de relacionarmos o racismo com a educação infantil, nós preparamos este artigo para inspirar reflexões e fomentar ideias para educar de forma inclusiva e positiva. Afinal, como disse Nelson Mandela:
Por que falar sobre racismo na educação infantil?
Primeiramente, porque é uma questão humana e necessária educar nossas crianças sobre a igualdade e necessidade de valorizar e respeitar todas as pessoas, independentemente de sua raça, crença, gênero ou orientação sexual. Também, porque quando a cultura e história de pessoas pretas aparece de forma mais completa em conteúdos letivos, na maioria das vezes a temática da aula envolve o triste período escravocrata, as opressões e reflexos negativos que deixou para a nossa sociedade (que ainda hoje vive o racismo estrutural).
Além disso, desde que a lei nº 10.639 foi aprovada em 2003, tornou-se obrigatória a abordagem da história e cultura afro-brasileira nos currículos letivos.
Que tem como objetivo estimular a compreensão sobre a origem das pessoas pretas, suas realidades de vida na sociedade atual e estimular a igualdade entre todas as crianças. Por meio da abordagem do racismo na educação infantil, não estamos apenas educando as crianças para não serem racistas, estamos plantando nelas uma semente cidadã que irá florescer como adultos antirracistas.
Crianças que aprendem sobre as diferenças e a importância de valorizar, aceitar e conviver com essas diferenças, tendem a superar preconceitos e assumirem comportamentos mais humanos e empáticos em seu dia a dia.
Valorizar as diferentes culturas é fundamental no processo!
O processo de aprendizagem como o conhecemos está diretamente exposto às experiências raciais. Em outras palavras, quando damos visibilidade a elas estamos estimulando as crianças a aprenderem com as diferenças, da mesma forma que ao fechar os olhos para o tema estamos condicionando (mesmo que inconscientemente) as crianças a agirem da mesma forma.
Trazer para o dia a dia de ensino as contribuições, realidades e representatividade de pessoas pretas na sociedade, tanto quanto das pessoas brancas, é uma forma de estimular a compreensão das desigualdades estruturais que permanecem fazendo parte da configuração da nossa sociedade. Por exemplo:
- Vai falar sobre arte? Valorize a arte do máximo de culturas possíveis.
- O tema da aula é música? Inclua na lista músicas de artistas pretos e brancos igualmente.
- É hora de passar um filme? Intercale produções com protagonistas de diferentes etnias, no decorrer do ano letivo.
- Estimule a leitura de histórias infantis com protagonistas pretos
- Traga conteúdos de professores e autores negros também
Normalize a inclusão e diversidade em suas abordagens letivas. Isso é importante ser trabalhado não em um tom de denúncia, mas de exploração e familiarização com a causa: para que as crianças pretas entendam suas origens e visualizem bons caminhos para desenvolvimento, assim como para que crianças brancas percebam sua posição de privilégio e possam aprender de forma mais inclusiva sobre ela.
Vamos refletir
Na posição de educadores e educadoras, nosso dever com as crianças é proporcionar um espaço de aprendizagem seguro e inclusivo a todas elas. Por isso, no que se refere ao racismo e educação infantil, o primeiro passo para que possamos cumprir nossa missão é refletir sobre:
- Estamos dedicando o mesmo nível de atenção a todas as crianças?
- Estamos ouvindo todas as contribuições para melhorar nossa rotina de ensino, independentemente de quem traga elas?
- Incentivamos igualmente todas as crianças a assumirem papéis de liderança?
- Incentivamos igualmente todas as crianças a perseguirem seus sonhos?
- Visualizamos oportunidades iguais para todas as crianças, independentemente da cor de suas peles?
- Exploramos conteúdos inclusivos que valorizem a cultura de todas as crianças da turma?
- Debatemos de forma lúdica assuntos sociais importantes para a informação e formação das crianças?
- Respeitamos e valorizamos os diferentes olhares e percepções de vida dos educandos e educandas, dentro de suas realidades e perspectivas individuais?
- Interferimos ativamente quando percebemos uma ação racista em sala de aula explicando e construindo com os alunos que cometem as ações discriminatórias o porquê dessa ação ser inadequada?
Responder sim para esses questionamentos é básico para que estejamos no caminho certo para educar de forma inclusiva e estimulante. A partir dessas reflexões, podemos encontrar alternativas para fortalecer o espírito de tolerância e respeito entre nossas crianças. Quanto mais cedo elas aprendem sobre isso, mais fácil será visualizar e defender a igualdade conforme crescem e assumem vozes ativas na sociedade.
Na prática: como trabalhar o racismo na educação infantil?
Separamos algumas dicas que podem contribuir com seu processo para trabalhar o racismo de forma leve, assertiva e inclusiva. Olha só:
Viva a diversidade em sala de aula
Crianças aprendem muito a partir dos exemplos. Por isso, ao explorar a diversidade cultural das pessoas pretas, não limite-se a falar sobre o tema. Busque e compartilhe conteúdos práticos com as crianças.
Pode ser música, filmes, danças, histórias, lendas, dialetos, fotografias, vestuário… Enfim, há uma infinidade de coisas que você pode incluir no seu planejamento letivo, para convidar as crianças a conhecerem, experimentarem e até reproduzirem o que aprendem em seu dia a dia. Essa é uma forma de fomentar a vivência e riquezas culturais das pessoas pretas, além de somente falar sobre ela.
Olha só alguns sites que indicam materiais:
- 13 livros infantis sobre representatividade negra
- 10 desenhos infantis que promovem a igualdade
- A história da cultura africana e afro-brasileira para crianças
- Ritmos africanos na pré-escola
Estimule a compreensão das diferenças
O conhecimento é uma forma de naturalizar as coisas enquanto normais. Por isso, trabalhar com atividades que permitam às crianças conhecerem as diferenças é uma estratégia poderosa para vencer preconceitos e abrir a mente delas para novas compreensões de mundo.
Alternativas para adotar esta prática na hora de trabalhar o racismo na educação infantil é planejar viagens de campo para espaços que celebrem a cultura preta, convidar pessoas pretas para trocarem experiências com as crianças durante uma aula, preparar um café da manhã étnico para que elas desfrutem dos sabores da cultura preta.
E, é claro, pedir sempre para que as crianças compartilhem suas experiências e sigam pesquisando saberes sobre as temáticas, para visualizar quais pontos ainda precisam ser melhor trabalhados, assim como perceber as potencialidades de cada ação. Para dar voz a uma causa, precisamos sempre lembrar de ouvir as pessoas envolvidas no processo!
Ensine sobre justiça social
A compreensão de justiça social é fundamental para trabalhar o racismo na educação infantil. Na medida em que você for avançando sobre a compreensão da cultura das pessoas pretas e necessidade de igualdade e respeito entre todos nós, traga também informações a respeito do racismo estrutural que permeia a sociedade. Claro que no caso das crianças não aconselhamos a abordagem de estatísticas e conteúdos pesados, mas – por exemplo – reflexões como:
- Estimular a compreensão das individualidades de cada uma delas
- Perceber que as diferenças fazem parte de nossas vidas, nos tornando pessoas únicas
- A importância de respeitar todas as pessoas independentemente de quaisquer características que elas tenham
- O valor da amizade e de apoiarmos todas as pessoas em situações de dificuldade
- O poder da voz de cada um no processo de compreensão e combate às injustiças
Dessa forma, é possível estimular as crianças a criarem noções de igualdade, compreendendo que suas diferenças são naturais, mas não as colocam em posição de vantagem ou desvantagem em relação às outras.
Com isso em mente, na medida em que forem crescendo e consumindo outros conteúdos sobre o tema, elas já terão uma reflexão mais crítica a respeito deles.
Ah, e lembre-se de trabalhar esses temas no dia a dia (não apenas em datas comemorativas)
É claro que as festas e celebrações da cultura preta precisam ser valorizadas e incluídas no processo de aprendizagem, na medida em que fazem sentido ao currículo escolar. Mas isso não quer dizer que podemos limitar nossa atuação sobre o racismo e educação infantil somente nessas situações.
O processo deve ser recorrente, pois o racismo na sociedade é uma questão recorrente também.
E para finalizar nosso texto, trouxemos também:
Uma referência para inspirar você!
Durante a pesquisa para este artigo, nós encontramos um material chamado Conteúdo Antirracista para Crianças e Educadores. Sua definição traz um ponto muito forte e que é compartilhado por nós na essência deste texto:
“Este não é um conteúdo direcionado apenas a crianças e adultos pretos. É direcionado a todos e todas que acreditam na necessidade de termos uma educação antirracista”.
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