O que você tem compartilhado com seus alunos? Nas histórias que são contadas em aula, quem são os personagens principais? De quais autores são os livros que ensina? Que compositores escreveram as músicas que tem passado? O debate racial na educação começa a partir do momento em que planejamos o conteúdo que levamos para a sala de aula. A educação não tem cor, mas será que estamos contribuindo para que crianças convivam com a diversidade ou silenciando uma causa? 

Falar sobre o debate racial e procurar ampliar as pautas antirracistas é um dever de todas as pessoas que acreditam em uma educação inclusiva, justa e igualitária. Valorizar culturas africanas não é um atitude somente para pessoas pretas, mas para quem busca um local de ensino e social menos preconceituoso. A escola como parte da formação do ser humano tem um papel essencial nesse processo: que pessoas estamos formando? Nesse artigo,  você irá conferir formas de ampliar o debate racial na sala de aula e referências negras para a criação dos seus conteúdos. Confira:

O papel da escola no debate racial 

Formar pessoas que compreendam e valorizem a pluralidade da cultura étnica brasileira é um dos papéis da escola no debate racial. E esse processo começa já na base curricular e planejamento de aprendizado. O ensino e história sobre a cultura afro-brasileira é um dever que instituições precisam ter desde 2003, com a Lei  nº 10.639/03. Além disso, outras ações como adoção do dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra no calendário escolar. 

Mas engano é pensar que somente isso é suficiente para que todos compreendam o valor dessas culturas e crianças possam se sentir representadas. O racismo também está na escola! É por uma expressão verbal ou gesto que alunos negros são vítimas do preconceito, muitas vezes velado. Como educadores, é necessário um olhar atento para isso e medidas que não deixem essas situações serem normalizadas. 

Vá além das datas comemorativas. Procure se questionar do seu papel neste debate e como você  influencia as crianças. Comece com 6 passos: 

  1. Quando falar de atos históricos aborde também o lado das pessoas negras, mostre autores, políticos e personalidades negras que fizeram a diferença na época 
  2. Respeite as diferenças e leve em consideração todos os lados de uma história 
  3. Mostre aos seus alunos que você realmente se interessa por esse debate 
  4. Esteja atento a atitudes e falas preconceituosas. E o mais importante, se posicione 
  5. Converse com seus alunos sobre esse tema, traga situações reais à sala de aula 
  6. Saia da bolha e procure novas formas de abordar e ampliar o debate racial

Comece contando a verdadeira história 

Quando você aprendeu sobre a colonização do Brasil, que versão foi ensinada ou o que aprendeu sobre as pessoas que eram escravizadas? O primeiro passo para que esses debates sejam inseridos dentro da sala de aula é mostrar que nem tudo é como os livros mostram. Traga personagens além dos que são capas dos livros, mostre pessoas negras que fizeram a diferença na época e atos de uma população que até hoje luta por seus direitos. 

Aqui vão alguns acontecimentos importantes que você pode abordar em suas aulas: 

1995

Em 20 de novembro aconteceu a Marcha Contra o Racismo pela Igualdade e Vida, que reuniu mais de 30 mil pessoas em Brasília, na data que marcava 300 anos da morte de Zumbi dos Palmares. O Movimento Negro buscava por igualdade e direitos por políticas públicas. 

2003

Entra em vigor a Lei n°10.639/03 que torna obrigatório o ensino das Histórias e Culturas Afro-Brasileiras nas escolas. Em 2008, a lei – que passou a ser a Lei n° 11.645/08 – ampliou-se também para as culturas indígenas.

Art. 1°: “É obrigatório o ensino da cultura negra e indígena resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.”

2010

Estatuto da Igualdade Racial é criado pela Lei n° 12.888/10. 

Art. 1°: “O Estatuto da Igualdade Racial tem por objetivo “combater a discriminação racial e as desigualdades raciais que atingem os afro-brasileiros, incluindo a dimensão racial nas políticas públicas desenvolvidas pelo Estado.”

2012

Entra em vigor a Lei de Cotas para o Ensino Superior, Lei n° 12.711/2012. 

Art. 1º: “As instituições federais de educação superior vinculadas ao Ministério da Educação reservarão, em cada concurso seletivo para ingresso nos cursos de graduação, por curso e turno, no mínimo 50% (cinquenta por cento) de suas vagas para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas.”

2015

Neste ano aconteceram duas grandes marchas em prol das mulheres negras: a Marcha das Mulheres Negras Contra o Racismo e a Marcha do Empoderamento Crespo. 

“Se queremos chegar a algum lugar juntos, devemos estar dispostos a dizer quem somos. Eu sou a ex-primeira-dama dos Estados Unidos e também sou descendente de escravos. É importante ter presente essa verdade.”

 (Michelle Obama) 

Como incluir o debate racial 

Podcasts 

As plataformas de áudio trazem novas possibilidades de aprendizagens às crianças. E o melhor de tudo é que você pode indicar que escutem em sala de aula ou ao lado dos responsáveis em casa. Uma característica interessante dos podcasts é que por serem somente auditivos, as crianças precisam usar ainda mais sua imaginação para criarem as histórias que escutam. Olha essa opção: 

Deixa que eu conto 

O podcast diário feito pela Unicef, Fundo das Nações Unidas Para a Infância, conta histórias, traz brincadeiras e atividades para crianças no período de alfabetização. Há uma sessão de episódios voltados à cultura afro-brasileira. A ideia é trazer músicas, histórias e curiosidades sobre a população negra do Brasil. Neste caso, os programas são apresentados por pessoas negras e quilombolas. 

Livros 

Qual foi o último livro que indicou aos seus alunos e a personagem principal era uma criança negra? Se é por meio da literatura que somos transportados para novos mundos e conseguimos trilhar novos sonhos, crianças precisam se sentir representadas para que consigam dar asas à sua imaginação. 

Além disso, é pelas histórias que aprendemos valores e saberes dos povos como os afro-brasileiros. Busque livros que tragam a diversidade e representatividade. Deixamos aqui algumas opções de obras e também dois perfis que falam sobre educação e diversidade, @olubayoeducacao e @pretinhasleitoras

História e cultura africana e afro-brasileira na Educação Infantil

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O livro feito pelo Ministério da Educação (MEC), UNESCO e Universidade Federal de São Carlos (UFScar) apresenta formas de introduzir mais sobre a história e cultura africana e afro-brasileira na educação infantil. O material traz propostas pedagógicas que coloquem em evidência as raízes e diversidade do povo. 

Gosto de África: Histórias de lá e daqui

Gosto de África: histórias de lá e daqui | Amazon.com.br

Dividido em 7 contos que aconteceram na África e 4 no Brasil, Joel Rufino dos Santos mostra histórias reais, tradições e mitos sobre pessoas pertencentes à cultura afro-brasileira. Uma inclusive é sobre Luiz Gama, abolicionista do Brasil. 

Amoras 

Amoras | Amazon.com.br

O livro do cantor Emicida baseado na música Amoras que fez para a sua filha também se tornou uma obra para crianças. Com referências africanas, em Amoras crianças terão contato com a importância de assumirem suas raízes desde pequenas, a representatividade, negritude e preconceito que sofrem.  

Meninas Negras 

016/100 Meninas Negras Autora: Madu Costa... | 100 livros infantis meninas  negras | Meninas negras, Historias infantil, Livros de histórias infantis

Reconhecer sua ancestralidade e cultura das suas origens é importante para que crianças cresçam confiantes e sabendo valorizar cada conhecimento e história. Em Meninas Negras, Madu Costa trabalha no imaginário infantil a identidade afrodescendente. 

Nuang, Caminhos da Liberdade 

NUANG - CAMINHOS DA LIBERDADE! - 9788592577070 - Livros na Amazon Brasil

No livro Nuang, a autora Janine Rodrigues leva as crianças ao mundo dos uthando, conhecidos por sua grande sabedoria. Nuang era uma menina que adorava descobrir o novo e acreditar em suas histórias, mas um acontecimento em sua terra faz com que juntos precisem reconquistar a liberdade do povo. 

BÔNUS: projeto A Cor da Cultura e Literafro 

a cor da cultura - Educação que transforma: Blog da Unileão

Há outras duas formas de apresentar a cultura dos nossos ancestrais e levar a diversidade para a sala de aula com livros digitais. A Cor da Cultura é um projeto que apresenta, por meio da sua plataforma digital, diversos conteúdos sobre o povo afro-brasileiro, vídeos, livros, imagens e inclusive atividades para serem feitas. Já o literafro é um portal que contém diversos títulos literários de autores negros brasileiros. 

Inicial - Literatura Afro-Brasileira

Desenhos e filmes 

E se nos livros as crianças precisam se sentir representadas, nos desenhos e filmes não é diferente. Associar a sua trajetória com a de algum personagem faz com que sejamos encorajados a continuar seguindo nossos sonhos. Adicionalmente, por meio do lúdico podemos incentivar a valorização da cultura e sentimento de pertencimento. 

Bino e Fino 

O desenho Bino e Fino é um mergulho na cultura africana. Os dois irmãos aprendem com a ajuda de seus amigos e familiares mais sobre a cidade da África em que vivem e sua cultura. 

Nana e Nilo 

Os irmãos gêmeos Nana e Nilo fazem muitas viagens para suas tradições e aprendem em cada novo destino um pouco mais sobre a cultura afro-brasileira. São duas crianças brasileiras negras que descobrem histórias e personagens que se assemelham à cultura deles. Há episódios sobre danças típicas como o carimbó, frevo e baião. 

Kikiru 

O filme Kikiru é baseado em uma lenda africana do bebê guerreiro. Na história, um bebê nasce sabendo falar e ler, e tem como missão principal defender seu povo da feiticeira Karabá. Uma forma de mostrar a representatividade e diferença das culturas. 

Love Hair 

O curta-metragem Love Hair aborda em 7 minutos a história da pequena Zure e seu pai, mostrando o cabelo afro da criança e a importância da representatividade e inclusão já na infância. 

Músicas 

Levar a diferença por meio da música também é uma opção. Mostre músicas escritas e interpretadas por pessoas negras, que falem da diversidade e da cultura desses povos. Nós separamos 4 opções para você. 

BLACK BLACK – Canal Infantil 

Normal é ser diferente – Grandes Pequeninos 

Música africana para crianças 

Todos os Povos – Mundo Bita 

Conteúdo para educadores 

Todo educador deve trazer o debate racial para dentro da sala de aula. Caso você não se sinta seguro, nós trouxemos alguns conteúdos que podem embasar o seu conhecimento. Olha só: 

Os africanos – Raízes do Brasil 

Qual o papel das raízes africanas na identidade brasileira? De forma lúdica, o episódio sobre africanos no Raízes do Brasil, do canal enraizado mostra toda a trajetória do povo negro da África até a chegada em nosso país. 

TEDx Gabi Oliveira, novas narrativas importam 

Como crianças são representadas? No TEDx da Gabi Oliveira é abordado como sempre colocam a pessoa negra em posição inferior ao branco. Ressignificar e realizar novas narrativas é uma maneira de mudarmos perspectivas. 

O que é racismo estrutural? 

O racismo está na estrutura do país. O Brasil foi o último país a decretar a abolição da escravatura e até hoje sofre com reflexos desses tempos. O vídeo do Quebrando o Tabu explica de forma didática o racismo estrutural

Planejamento de conteúdo 

Trabalhar o debate racial deve ser uma questão diária, pois o racismo acontece todos os dias. Com as crianças, a abordagem não precisa ser pesada e com grande foco em dados, mas sempre deixe claro que isso existe e inspire para que desde cedo saibam a importância de conviver com a diferença. 

Falar sobre questões raciais não cabe somente quando estamos abordando o racismo. Se buscamos uma representatividade e igualdade escolar, é preciso que em cada conteúdo tratemos pessoas negras e brancas da mesma forma. Se no livro de história só existe personagens brancos, fale sobre negros que também marcaram a época. 

Tornar o ambiente escolar inclusivo é a forma de crianças crescerem reconhecendo seus privilégios e ao mesmo tempo outras se sentindo representadas. Quando for pensar os conteúdos a serem abordados em sala de aula, pense sempre na inclusão! 

Alfabantu 

A professora Odara Dèlé criou o Alfabantu, alfabeto com dialetos africanos, como forma de ampliar e valorizar a cultura. o aplicativo pode ser baixado pelo Google Play. As atividades são em formato de jogos e histórias sobre o povo africano Bantu. 

Modos de brincar 

O projeto A Cor da Cultura procura trazer conteúdos voltados à educação infantil. No caderno Modos de Brincar, atividades, saberes e artigos étnicos-raciais para crianças. 

Relações étnicas-raciais na sala de aula

As questões étnicas-raciais podem ser inseridas já no currículo das escolas. A pedagoga Clélia Rosa fala sobre como essa promoção antirracista pode ser aplicada dentro da sala de aula. É preciso que as relações raciais sejam abordadas já no currículo e planejamento, não só com projetos pontuais. 

Rodas de conversa

Rodas de conversa são essenciais para construir pensamentos antirracistas ao lado dos seus alunos. Ao reunir-se com as crianças traga histórias, vídeos, imagens e construa junto um diálogo baseado na problematização e consequentemente solução. 

A questão racial é uma pauta da sociedade 

Sim! Trabalhar o debate racial é uma pauta que todo ser humano deve colaborar. A educação como parte da sociedade também tem o papel de acrescentar com questões inclusivas e igualitárias. Formar pessoas que tenham condutas antirracistas começa na infância. É preciso que o discurso e a prática andem juntos, mais que falar sobre conteúdos é preciso tornar efetivo tudo isso ao lado das crianças. 

Promova ambientes diversos. Aprender sobre os povos afro-brasileiros é uma atividade diária, crie uma rede com pessoas de diferentes etnias e consuma conteúdos que mostrem essa diversidade. Nós deixamos aqui 5 perfis para inspirar você: 

@criandocriancaspretas 

@djamilaribeiro1

@carneiro956

@gabidepreta

@joiceberth

“A educação é a arma mais forte que você pode usar para mudar o mundo.” Nelson Mandela

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