Entenda como a canção “Tomatinho Vermelho” trouxe uma reflexão marcante; confira o texto completo

O poder de uma canção no cotidiano da Educação Infantil

Quem já trabalhou com bebês e crianças pequenas sabe: muitas vezes, as maiores descobertas nascem dos momentos mais simples. Uma música cantada no refeitório, um objeto encontrado no pátio, uma palavra repetida com entusiasmo — tudo isso pode se transformar em ponto de partida para um projeto cheio de sentido.

Recentemente, tive contato com um relato de experiência que me marcou  profundamente. Em uma turma de berçário, a canção popular do “Tomatinho Vermelho” despertou tanta curiosidade que se transformou em um projeto cooperativo. O refrão, cantado com alegria, levou as crianças a perguntarem: “Cadê o tomatinho?”. Dessa inquietação nasceu uma investigação: plantar tomates, observar seu crescimento, sentir os cheiros, experimentar os sabores, conversar sobre alimentação e até criar produções artísticas.

O que começou como brincadeira se tornou uma oportunidade de ampliar repertórios, fortalecer vínculos e transformar o cotidiano em um currículo vivo.

Currículo da vida: quando as pistas das crianças orientam o caminho

Essa experiência mostra que a infância é território de descobertas e que, quando os professores estão atentos às pistas dadas pelas crianças, o aprendizado ganha novos sentidos.

Na Educação Infantil, o currículo não se resume a conteúdos pré-definidos. Ele se constrói a partir das interações, do brincar e das curiosidades que emergem nas rotinas diárias. Uma simples música pode abrir espaço para diálogos sobre ciência, arte, cultura alimentar e cooperação.

É nesse sentido que a metodologia do Programa A União Faz a Vida (PUFV) se fortalece. Ela parte da escuta sensível das crianças, organiza o percurso em torno de perguntas exploratórias, envolve a comunidade de aprendizagem e valoriza os saberes locais, sempre reconhecendo o protagonismo infantil. No processo, a metodologia de projetos do PUFV propõe três índices que representam um modo de acompanhar a curiosidade em movimento: 

  • índice inicial: permite reconhecer aquilo que as crianças já sabem ou identificam sobre o tema; 
  • índice formativo: evidencia o que desejam descobrir, as perguntas que levantam e as formas possíveis de buscar respostas; 
  • índice final: marca o momento em que expressam as aprendizagens construídas, mostrando como ampliaram seus saberes e de que maneira podem compartilhá-los com a comunidade.

No caso do “Tomatinho Vermelho”, as crianças começaram identificando o alimento que já conheciam no refeitório; depois, levantaram perguntas sobre onde ele é cultivado, como cresce e para que serve. Por fim, demonstraram seu aprendizado cuidando das plantas, degustando receitas e produzindo registros.

 

Aprendizagens que vão além do conteúdo

Experiências como essas nos propiciam a perceber que as aprendizagens ultrapassam o ato de plantar. O que se revela, de fato, são aprendizagens sociais, afetivas e culturais: o fortalecimento dos vínculos entre crianças e professores, a valorização da cultura alimentar local, o envolvimento da comunidade que colaborou com mudas e receitas e a construção coletiva de saberes.

Ou seja, mais do que falar sobre tomates, o projeto promoveu cooperação, cidadania e pertencimento — valores centrais no PUFV.

A infância como território de potência

Loris Malaguzzi, educador italiano que inspirou a abordagem de Reggio Emilia, dizia que a criança tem “cem linguagens”, múltiplas formas de se expressar e de se relacionar com o mundo. O projeto do “Tomatinho Vermelho” mostrou isso na prática: as crianças cantaram, plantaram, sentiram, brincaram, imaginaram e compartilharam.

Winnicott nos lembra que é no brincar que a criança descobre quem é. Paulo Freire, por sua vez, reforça que a educação libertadora nasce do diálogo e da problematização da realidade. Juntos, esses referenciais ajudam a compreender que a Educação Infantil é muito mais do que preparação para o Ensino Fundamental: é lugar de experiências fundantes, que permitem às crianças se reconhecerem como protagonistas de sua própria aprendizagem.

Quando o simples se torna extraordinário

Mais do que plantar tomates, o que se cultivou foi um jeito de olhar para a infância: reconhecer que cada pista dada por uma criança pode se tornar um caminho de aprendizagem.

Esse relato nos lembra que educar não é preencher uma página em branco, mas acompanhar um texto que já está sendo escrito pelas próprias crianças. O papel do professor é ser leitor atento, parceiro de investigação e mediador das descobertas.

E você, educador(a)?

Já viveu uma situação em que uma curiosidade inesperada das crianças deu origem a um projeto inteiro? Quais pistas do cotidiano poderiam render descobertas coletivas na sua escola?

*texto produzido a partir do artigo científico de:

  • Cristiana Gomes de Oliveira – 
  • Tassiana Quintanilha de Souza Duque – 
  • Vânia Regina Barbosa Flauzino Machado
  • Sonia Kimiko Suzuki 

 

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