Os hábitos de leitura no Brasil não estão entre os melhores do mundo, isso é um fato já bastante conhecido. Uma pesquisa realizada pelo NOP World Culture Score Index – para ranquear os hábitos de leitura de 30 países – classificou o Brasil em 27° lugar, na frente apenas do Taiwan, Japão e Coréia.
Em 2012, a análise de comportamento de leitura feita pelo Ibope Inteligência sob encomenda do Instituto Pró-Livro para o projeto Retratos da Leitura no Brasil mostrou que apenas 50,2% da população brasileira tinha hábito de leitura. A pesquisa, aplicada novamente em 2015, mostrou um leve aumento nesse número. Dessa vez, foram entrevistadas 5.012 pessoas de 5 anos ou mais, alfabetizadas, ou não, e foram considerados leitores aqueles que leram algum livro nos três meses anteriores à entrevista.
Os novos dados apontaram um aumento de 6% de leitores em relação à pesquisa anterior, passando o número de leitores a ser 56%. Outros dados descobertos apontaram que, em média, os brasileiros leem apenas 4,96 livros por ano, sendo que 2,53 dos livros não são terminados pelo leitor e que apenas 2,88 dos livros são lidos por vontade própria.
Infelizmente, ainda ocorre, para os jovens principalmente, uma falta de estímulo muito grande à literatura. Entre os fatores para essa falta de estímulo podemos citar a linguagem da literatura sendo vista muitas vezes como densa, a falta de recursos que permeiam algumas esferas sociais, as condições de ensino muitas vezes precárias e a falta de projetos pedagógicos que valorizem a leitura em sala de aula.
A escola é o espaço no qual a leitura mais merece atenção. É a escola que possui um grande poder de influência sobre os alunos e é no âmbito escolar que a literatura pode ser melhor trabalhada a fim de incentivar os estudantes a lerem mais livros. Entre os benefícios de ter um hábito de leitura regular, podemos citar:
1. Cultura
Com a leitura, o aluno tem a oportunidade de entrar em contato com culturas diferentes, que talvez não seria possível de outra forma. Ele passa a ter mais consciência sobre as histórias que cercam culturas diferentes e passa, consequentemente, a aprender a ter mais empatia pelo outro e pelo o que é diferente.
2. Reflexão
O estudante aprende a desenvolver um senso crítico sobre a sociedade.
3. Escrita e vocabulário
A leitura é uma ótima maneira de ampliar conhecimentos de vocabulário e melhorar a escrita. O aluno, enquanto lê, não só absorve melhor estruturas narrativas, como fixa melhor conceitos de gramática.
Além disso, um outro benefício que foi recentemente descoberto estar atrelado ao incentivo à leitura entre os jovens é o sucesso profissional.
Segundo um estudo feito pela Universidade de Oxford, quem lê de forma espontânea (além da obrigação escolar/profissional) tem mais chances de crescer profissionalmente, devido à ampliação de vocabulário e à compreensão de conceitos abstratos possibilitados pelas leituras cotidianas.
Durante a pesquisa, foi comparado o hábito de leitura de 17.200 pessoas aos 16 anos e suas posições profissionais aos 33, e notou-se que, entre cinema, esporte etc., a única atividade substancialmente relevante para a ascensão foi a leitura. Ou seja, quem, desde jovem, dedica algum tempo livre a ler pode se tornar no futuro um profissional mais bem-sucedido.
Mas como incentivar a leitura em sala de aula?
Além de estabelecer leituras obrigatórias e criar dinâmicas em sala de aula que envolvam a leitura, como contação de histórias para crianças mais novas ou seminários para alunos mais velhos, uma ótima maneira de iniciar esse hábito é através de filmes adaptados de livros.
As adaptações são maneiras diferentes de contar histórias e de desenvolver a expressão artística. Mostrar filmes em sala de aula não só é uma maneira fantástica de adentrar em uma diálogo sobre diferentes manifestações artísticas com os alunos, mas também é uma forma excelente de explorar diferentes técnicas de ensino. Por exemplo, para os alunos que têm mais facilidade em se recordar do que ouviu do que do que leu, o cinema pode ser uma forma mais fácil de fazer com eles absorvam o conteúdo.
O professor de Literatura Luiz Gasparelli Junior, afirmou em uma entrevista ao O Globo, que as obras cinematográficas baseadas em clássicos literários podem ajudar os estudantes a terem imagens frescas na cabeça no momento de responder às questões da prova.
Além disso, de acordo com o professor:
“Quanto mais nos aproximamos da arte, mais íntimos ficamos das linguagens. A música, a pintura e o cinema podem servir como estratégias para perceber a arte como forma de expressão. O livro que vira filme, nesse caso, é um facilitador para o aluno porque permite a ele criar memórias mais concretas das histórias, até porque a maioria dessas adaptações preserva o enredo das obras”.
A mestre em Lingüística e professora em Língua Portuguesa do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação, Elisandra Filetti, realizou uma pesquisa em sala de aula para entender qual a percepção dos alunos em relação a literatura e cinema.
A professora optou para escolher como objeto de pesquisa o filme e livro Desmundo, um romance, que por meio da história de uma jovem portuguesa que imigra para o Brasil, mas sonha em voltar para Portugal e durante este processo se envolve em um triângulo amoroso, faz duras críticas à história colonial do Brasil, durante o período quinhentista.
Os alunos foram convidados a lerem o livro e depois assistirem o filme. Após essa experiência, os estudantes afirmaram que o filme apresentou com tamanha nitidez os fatos que poderia muito bem ser um documento. E, apesar de, ao afinal, os alunos terem dito preferirem o romance, pela maior liberdade de imaginar cenários e personagens, 80% afirmou ter gostado de estudar o filme também em sala de aula, pelo fato de ser um material de apoio que permitiu que as questões da obra original fossem repensadas de outra maneira, gerando um debate interessante.
A lista de filmes e obras que podem ser trabalhadas em sala de aula é enorme, entre os principais romances brasileiros que podem ser apresentados como filmes, encontram-se Memórias Póstumas de Brás Cubas, O Triste Fim de Policarpo Quaresma, Senhora, São Bernardo e O Tempo e o Vento.
O uso do cinema pode ser um primeiro passo para o incentivo à leitura dentro da sala de aula e um instrumento para abrir debates e tornar as aulas mais interessantes.
E você, o que acha de usar filmes como material complementar em sala de aula? Deixe a sua opinião nos comentários.