Educação financeira da escola para a vida; confira o que podemos aprender com o sistema de educação do Chile

Neste conteúdo, vamos comparar os sistemas educacionais do Chile e do Brasil, destacando semelhanças, diferenças e, principalmente, como a educação financeira tem ganhado espaço nas escolas chilenas — um exemplo valioso para inspirar avanços no Brasil. 

Estrutura do sistema educacional

O Chile se destaca na América Latina por sua organização educacional eficiente e pela constante busca por qualidade. A educação é obrigatória dos 6 aos 18 anos, dividida em:

  • Educação Parvularia (Infantil): 0 a 6 anos
  • Educação Básica: 6 a 13 anos
  • Educação Média: 14 a 18 anos
  • Ensino Superior: técnico, universitário ou profissionalizante

O Brasil, por sua vez, tem a seguinte estrutura:

  • Educação Infantil: 0 a 4 anos
  • Ensino Fundamental: 6 a 14 anos
  • Ensino Médio: 15 a 17 anos
  • Ensino Superior: técnico, universitário ou tecnológico

Embora a escolaridade obrigatória tenha início no Chile aos seis anos e no Brasil aos quatro anos, os resultados refletem diferenças na eficiência dos investimentos e na definição de prioridades

Desempenho e qualidade

O Chile é atualmente o país latino-americano mais bem colocado no Pisa, exame internacional que avalia competências em Leitura, Matemática e Ciências entre jovens de 15 anos. Em 2022, o país superou o Brasil, que obteve colocações distantes: 65º lugar em Matemática, 57º em Leitura e 64º em Ciências.

O bom desempenho chileno não se deve apenas a maiores investimentos (que são similares proporcionalmente ao PIB), mas a uma gestão mais estratégica e descentralizada, com foco na qualidade dos conteúdos, avaliação constante e valorização da formação de professores.

Educação financeira na prática

Um ponto que chama a atenção no modelo chileno é a inclusão estruturada da educação financeira no currículo escolar. Nos últimos anos, o Chile tem investido em programas voltados à alfabetização econômica, ao empreendedorismo e ao planejamento financeiro desde a educação básica.

Os conteúdos são trabalhados de forma transversal, conectando disciplinas a situações reais, como controle de despesas, poupança, consumo consciente e compreensão de impostos.

No Brasil, apesar de a educação financeira estar prevista na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como tema transversal, sua aplicação ainda é pontual e irregular, variando de escola para escola. O conteúdo costuma ficar restrito a projetos pontuais, muitas vezes desconectados da realidade dos alunos e sem apoio de formação continuada para os professores.

O Brasil pode se inspirar e seguir o modelo chileno de integrar a educação financeira como competência de vida, com clareza curricular, formação docente e abordagem prática.

Políticas públicas e descentralização

Uma das diferenças estruturais entre os dois países está no modelo de gestão. O Chile implementou reformas importantes nos últimos 30 anos, com destaque para:

  • Descentralização para os municípios, aproximando decisões das comunidades.
  • Sistema de vouchers, que permite que famílias escolham onde matricular seus filhos (público ou privado subsidiado).
  • Financiamento por aluno, que estimula a melhoria de desempenho. 
  • Monitoramento contínuo X e transparência dos resultados.

No Brasil, embora existam diretrizes federais como o Plano Nacional de Educação (PNE), a desigualdade regional, a burocracia e a falta de avaliação consistente ainda dificultam a aplicação de políticas mais eficazes.

Formação e valorização docente

A formação e a valorização dos professores são pilares importantes do bom desempenho chileno. Além de exigir formação específica para atuação em cada etapa de ensino e vem se aproximando das orientações da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para melhorar continuamente a atratividade da carreira docente.

No Brasil, apesar de avanços legislativos e diretrizes curriculares para a formação inicial e continuada, a precarização das condições de trabalho, os baixos salários e a   sobrecarga ainda desestimulam a permanência de profissionais qualificados no magistério.

Inclusão e equidade

O Chile adota políticas de inclusão com base em equidade e desempenho, garantindo subsídios para alunos de baixa renda frequentarem escolas de melhor qualidade. Também investe em interculturalidade, respeitando a diversidade étnica e cultural.

o Brasil, a educação inclusiva é garantida por lei, mas sua efetivação enfrenta falta de recursos e barreiras estruturais, especialmente para atender populações mais vulneráveis com qualidade.

O que podemos aprender?

O sistema educacional chileno mostra que a idade não é impedimento para qualidade. Com políticas bem direcionadas, foco em resultados e compromisso com a base da educação, o Chile tem avançado na formação de jovens preparados para o futuro, inclusive financeiramente.

Para o Brasil, fica o aprendizado de que é possível dar saltos qualitativos, desde que haja vontade política, articulação entre esferas de governo e valorização real de professores e gestores escolares.

Ao observar o Chile, percebemos que educação financeira não é um luxo, mas uma competência essencial para formar cidadãos críticos, autônomos e preparados para os desafios contemporâneos.

Um olhar que provoca mudança

E se a educação financeira deixasse de ser vista como um conteúdo complementar e passasse a ser tratada como parte central da formação crítica dos alunos?

Quem atua em sala de aula sabe: transformações mais consistentes não começam com grandes reformas, mas de decisões práticas e bem executadas. Às vezes, um projeto piloto, uma abordagem inovadora ou um conteúdo conectado à realidade dos estudantes já são suficientes para iniciar mudanças relevantes.

Talvez não tenhamos como mudar o sistema todo de uma vez, mas podemos fazer escolhas intencionais no cotidiano escolar — e essas escolhas constroem, passo a passo, uma educação mais relevante e transformadora.

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