A educação está em constante processo de mudança e evolução. Os alunos de hoje são diferentes dos alunos do passado. Os recursos que temos disponíveis para a elaboração de aula e transmissão de conhecimento também mudaram e, por isso, precisamos repensar práticas e métodos de aprendizagem que atendam às expectativas de cada educando. Para isso, é importante que os educadores revejam hábitos, filtrem as ações que estão dando certo e aprimorem o que for necessário.

Para contribuir nesse processo, elencamos quatro metodologias de ensino que reconsideram as práticas dentro de sala de aula e sugerem novas formas de vivenciar a experiência letiva junto aos educandos. Confira:

Aprendizagem baseada em problemas

Essa é uma estratégia de ensino-aprendizagem em que tanto a aquisição de conhecimentos, como o desenvolvimento de habilidades e atitudes são importantes. Um grupo pequeno de alunos se reúne, com a orientação do educador, para analisar e resolver um problema selecionado ou elaborado especialmente para a conquista de certos objetivos de aprendizagem.

Durante o processo de interação dos alunos para entender e resolver o problema é possível, além do aprendizado do conhecimento do conteúdo, elaborar um diagnóstico de suas próprias necessidades de aprendizagem. Os alunos irão trabalhar colaborativamente, desenvolver habilidades de análise e síntese de informação, e comprometer-se com o processo de aprendizagem individual e coletivo.

A aprendizagem baseada em problemas se sustenta em 3 princípios básicos:

  • O entendimento a respeito de uma situação da realidade surge das interações entre os alunos.
  • O conflito cognitivo ao enfrentar cada nova situação estimula a aprendizagem.
  • O conhecimento se desenvolve mediante o reconhecimento e aceitação dos processos sociais e da avaliação das diferentes interpretações individuais do mesmo fenômeno.

O objetivo principal dessa abordagem não é simplesmente resolver o problema, mas sim identificar os temas de aprendizagem de maneira independente ou em grupo. Os alunos assumem responsabilidade e confiança no trabalho realizado com os colegas, desenvolvendo a habilidade de dar e receber críticas orientadas à melhoria de seu desempenho e do processo de trabalho coletivo.

Eles passam a integrar uma metodologia própria para a aquisição de conhecimento e aprendem sobre seu próprio processo de aprendizagem. Os conhecimentos são introduzidos em relação direta com o problema e não de maneira isolada ou fragmentada. O importante é que os alunos possam observar o próprio avanço no desenvolvimento de conhecimentos e habilidades, tomando consciência de como está sendo sua colaboração para a equipe.

Algumas atividades que os educadores podem aplicar para estimular esse método são:

  • Ajudar os alunos a refletir e identificar necessidades de informação, sempre motivando a equipe a alcançar as metas de aprendizagem propostas.
  • Orientar a equipe no processo de aprendizagem, assegurando-se de que os alunos não percam o objetivo esboçado e, além disso, direcione os alunos nas atividades e temas importantes para cumprir com a resolução de problemas.
  • Identificar o que cada aluno ou grupo precisa estudar para compreender melhor o problema, e consequentemente o conteúdo proposto. O educador pode realizar perguntas e incentivar a reflexão crítica entre os participantes para que facilite o aprendizado.

Antes de iniciar uma atividade de resolução de problemas, é importante que o educador estimule dentro de cada grupo, o uso de algumas habilidades e compartilhamento de experiências de todos os participantes. Os alunos precisam estar abertos a aprender com os demais e assumir um compromisso para transmitir quaisquer conhecimentos adquiridos anteriormente.

Aprendizagem baseada em projetos

Essa metodologia é focada na construção de conhecimento por intermédio de um trabalho longo e contínuo de estudo, que tem como propósito atender a uma indagação, a um desafio ou a um problema.

Partindo desse ponto, os estudantes iniciam um processo de pesquisa, de estabelecimento de hipóteses e de procura por recursos para conduzir essa atividade. Também envolve a aplicação prática da informação obtida até se alcançar um produto final ou uma solução satisfatória para a questão inicial. Para que isso ocorra, é preciso começar com um problema desafiador, sem respostas fáceis que possam ser obtidas rapidamente, por exemplo, no Google. É necessário estimular a imaginação, incentivando os alunos a ir atrás de soluções.

Com isso, a aprendizagem baseada em projetos une, até certa medida, o processo de ensino e a prática, tornando-os inseparáveis. Ao aplicá-la, envolve-se a exploração do contexto, o desenvolvimento de ideias a partir do conhecimento e a comunicação entre pares. Uma grande vantagem dessa metodologia está no fato de os alunos conseguirem organizar suas descobertas por meio de gráficos e estatísticas, vídeos, aplicativos e programas simples, entre outros instrumentos multimídia.

Com o uso dessas ferramentas, eles demonstram seus conhecimentos por meio de apresentações ou produtos voltados para um público real. Paralelamente a isso, os professores podem repassar à turma os resultados e as avaliações feitas sobre o desempenho de cada aluno para enriquecer ainda mais o processo de ensino.

Nesse processo, o professor não deve expor todo o conteúdo de ensino planejado, pelo contrário, são os próprios estudantes que têm de buscar os materiais e conhecimentos para alcançar os propósitos de aprendizado propostos. O papel do professor, nesse caso, é atuar como um orientador, intermediando e colaborando pontualmente com os alunos. Graças a isso, para uma mesma questão inicial, os grupos que se formam podem alcançar respostas e resultados distintos, podendo, inclusive, acrescentar conhecimentos diferentes e complementares uns aos outros.

Alguns passos para aplicar esse método são:

  • Sugira um problema
  • Proponha que os educandos investiguem suas possíveis causas e elaborem hipóteses
  • Defina táticas para a resolução do desafio
  • Estabeleça um plano
  • Apresente o plano e o execute, podendo demonstrar os resultados depois

O ponto-chave é que cada estudante seja capaz de interagir com sua realidade, identificar o que há de errado e entender o que precisa ser melhorado ou resolvido. A partir disso, ele deve sugerir um ou mais modos de prevenir ou solucionar o desafio. Por exemplo, se a pergunta inicial envolve algo como incentivar uma comunidade a economizar água, os alunos poderão encontrar diferentes caminhos para isso. Um grupo pode buscar as principais práticas que contribuem para a redução do consumo e montar uma cartilha, enviando-a por e-mail às pessoas ou distribuindo-a de forma física.

É importante observar que a Aprendizagem Baseada em Projetos funciona de modo a desenvolver habilidades como autonomia, proatividade e curiosidade para a resolução de problemas. Também fomenta a comunicação interpessoal e o trabalho em equipe, tanto entre os alunos quanto entre estudantes e professor. Por sinal, o educador passa a ser um colaborador orientador e não apenas o encarregado de passar conteúdo de forma vertical.

Confira mais sobre a prática dessa metodologia no portal Transformando.com.vc, por meio dos relatos de Manfred Alfonso Dasenbrock e José Roberto Ricken:

Sala de aula invertida

Imagine um sistema educacional no qual os alunos estudam os conteúdos curriculares em suas casas só para depois irem à escola encontrar professores e colegas, tirar suas dúvidas e fazer exercícios. Em outras palavras, onde a lição de casa é feita em sala e a aula é dada em casa. Eis o princípio por trás da metodologia da “sala de aula invertida”, que propõe a inversão completa do modelo de ensino. Sua proposta é prover aulas menos expositivas, mais produtivas e participativas, capazes de engajar os alunos no conteúdo e melhor utilizar o tempo e conhecimento do professor.

A metodologia tradicional deixa o aluno num papel passivo, simplesmente ouvindo as explicações do professor. Ao inverter esse modelo e fazer com que o aluno assista às aulas fora do ambiente da escola ou universidade, há um aumento na presença e participação em sala de aula. Quando um conteúdo totalmente inédito é apresentado ao educando, a introdução se dá, em geral, por meio de textos e videoaulas que apresentam os conceitos básicos e exercícios resolvidos como exemplos. A leitura antecipada incita o raciocínio prévio e eleva o papel do professor. Ou seja, o educador passa de expositor para tutor, auxiliando e incentivando o aprendizado mais profundo do aluno quando ele traz dúvidas, raciocínios e discussões prévias.

É possível aplicar essa metodologia a todas as disciplinas escolares obtendo o mesmo efeito. Pelos estudos obtidos em diversas instituições em todo o mundo, há sempre um ganho em relação à metodologia tradicional, independente da disciplina. Segundo um levantamento feito na Universidade de British Columbia, nos Estados Unidos, com professores de Física que aplicaram a metodologia, dentre os quais Carl Wieman, prêmio Nobel de Física em 2001, houve um aumento de 20% na presença e 40% na participação dos alunos com o modelo. Além disso, as notas dos alunos participantes foram duas vezes maiores que as das classes que utilizaram a metodologia tradicional.

Nesse contexto, onde praticamente toda a dinâmica da aula se altera, é essencial capacitar o professor para aplicar o modelo com sucesso. Isso começa com uma mudança de paradigma ou forma de pensar. Para o estudo em casa, os alunos contam com recursos como vídeos, textos, áudio, games, entre outros. No entanto, a metodologia não implica necessariamente em repensar todo o material didático hoje disponível. Por exemplo, a utilização de uma leitura prévia antes da aula e de deveres de casa já são exemplos de uma sala de aula invertida.

Design thinking

O design thinking é um conceito que surgiu dentro da área de design mas que pode ser aplicado em qualquer outra. O significado é justamente o que o termo em inglês propõe: uma maneira de pensar através do design. Ou seja, com criatividade e simplicidade, em busca de múltiplas soluções possíveis e sempre com foco nas pessoas. Muito usado por empresas para criar novos produtos ou estratégias e também para inovar, essa maneira de pensar também se aplica muito bem à área da educação porque propõe acima de tudo, construção e comunicação coletiva com empatia.

A empatia vem do esforço para sintetizar informações e se comunicar com o outro com clareza ao se colocar em seu lugar de entendimento da situação. Diferente de  transmitir uma ideia da maneira que te convenha, o design thinking propõe um olhar mais cauteloso a partir de uma conexão mais intensa e produtiva.

Para aplicar o design thinking, existem 5 passos fundamentais:

  • Descobrir qual é o desafio a ser superado e traçar um plano
  • Interpretar as possibilidades acerca do seu objetivo
  • Encontrar oportunidades para vencê-lo
  • Experimentar as ideias na prática
  • Aprimorar o resultado

Quando pensamos em transmitir uma mensagem ou conteúdo, especialmente dentro da área da educação, logo nos vem à cabeça a relação de professor-aluno, geralmente sendo o professor um transmissor do conteúdo e o aluno um receptor. Porém o design thinking estimula não apenas a troca por meio de uma comunicação fácil e coerente, mas também a organização dos seus próprios pensamentos, ideias e planejamentos.

Dentro da escola, ele pode ser usado tanto por gestores, quanto educadores ou mesmo educandos, em grupos ou individualmente. Afinal, além de ser uma ferramenta de conexão com os outros, o design thinking também pode ser uma ferramenta de visualização do seu próprio conhecimento. Se alguém não consegue visualizar e organizar o que sabe, entendendo níveis de importância e prioridade, além de ser capaz de realizar assimilações práticas, dificilmente essa pessoa terá capacidade de transmitir esse conteúdo adiante.

Para os professores, o design thinking pode ser usado antes, durante e após a sala de aula. Antes, durante o seu planejamento que pode ser tanto de aulas em si quanto de sua carreira, se atentando para estudos e habilidades que eles mesmos precisam para evoluir. Durante, para explicar conceitos aos alunos e desenvolver uma aula mais interativa entre eles, inclusive propondo atividades em que os alunos desenvolvam o design thinking em grupos. Após, para entender métodos de avaliação e mensurar melhor os resultados.

Hora de testar!

Mudar processos e adaptar novidades à realidade do cotidiano, de início, pode não parecer tarefa fácil. Porém, todos os educadores podem se enxergar como guias, enquanto criadores de novas realidades no processo de aprendizagem. Experimente essas metodologias e descubra qual é a mais compatível com os seus objetivos dentro da sala de aula. Seja um agente transformador da educação. Inove!

Ah, e você pode acessar outras metodologias nos outros artigos que preparamos para você:

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