Há um tempo atrás, Jean Sigel, fundador da Escola da Criatividade, publicou um artigo aqui no Transformando.com.vc sobre a importância de incentivar a criatividade no ensino.

Segundo Sigel, a negligência com que escolas, universidades e pais de um modo geral tratam a imaginação, a intuição, a criatividade e o pensamento criativo nos leva à reflexão preocupante de que estamos educando nossos filhos para serem tudo, menos criativos, originais e inovadores. Para ele, as consequências disso podem ser devastadoras, considerando que vivemos em um mundo cada vez mais competitivo e carente de novos negócios, novas ideias e soluções para questões econômicas, políticas, ambientais e sociais.

É justamente neste cenário que o empreendedorismo entra em cena. Ensinar empreendedorismo vai muito além de ensinar os trâmites de abrir e gerir empresas: o empreender exercita a capacidade de pensar de forma inovadora e criativa, direciona o olhar para encontrar problemas e achar soluções e ensina a otimizar oportunidades.

O que temos a ganhar com o empreendedorismo?

A atitude empreendedora será cada vez mais importante no futuro, não somente para os próprio empreendedores, mas também para os funcionários, que serão cada vez mais exigidos em termos de criatividade em solucionar problemas, capacidade de inovação e pensamento estratégico.

De acordo com um artigo da revista Harvard Business School, ensinar sobre empreendedorismo desde cedo acende nos jovens uma mentalidade empreendedora que faz com que eles comecem a pensar e agir como empreendedores em todos os aspectos de suas vidas. Eles passam a se comunicar melhor, a persistir com a falha e a se tornar mais flexíveis e adaptáveis para enfrentar obstáculos, resultando em maiores chances de se tornarem felizes e bem sucedidos em suas futuras carreiras.

Uma pesquisa realizada pela Agência Executiva de Educação, Audiovisual e Cultura da União Europeia sobre o cenário da educação empreendedora nas escolas, mostrou que o empreendedorismo integra as disciplinas obrigatórias do Ensino Médio de 50% dos países pesquisados. Em países como a Lituânia e a Romênia, o empreendedorismo é disciplina específica no currículo.

Muitos dos países europeus que participaram da pesquisa, alegaram acreditar no empreendedorismo, na inovação e na boa educação como o caminho para driblar problemas sociais, razão pela qual nesses países os governos apoiam fortemente iniciativas de fomento ao empreendedorismo, como a cooperação entre escolas e empresas e a criação de pequenos negócios por estudantes.

Entre os benefícios de ensinar o empreendedorismo para crianças desde cedo, podemos citar:

  • Desenvolve de senso de responsabilidade

    Ao ensinar empreendedorismo, começamos a, desde cedo, dar autonomia para que a criança execute por si própria um projeto, aprendendo a lidar com os riscos, as consequências e os deveres que englobam a ação.

  • Ensina a lidar com dinheiro

    Através do empreendedorismo, as crianças aprendem planejamento financeiro, compreendendo o valor do dinheiro e podendo até mesmo aprender a investir.

  • Ensina a lidar com frustrações

    Nem sempre os projetos saem como esperados. Imprevistos e problemas de último minuto são normais quando planejamos e executamos um projeto. Em aulas de empreendedorismo, as crianças aprendem a lidar com essas situações e a buscar soluções diferentes para o problema, se a primeira opção não funcionar.

Entre os alunos que aprendem empreendedorismo, também se nota uma melhora de pensamento crítico e analítico, comunicação, trabalho em equipe e resiliência. Além disso, alunos envolvidos com empreendedorismo julgam a experiência de aprendizado como sendo mais significativa e divertida.

Exclusão social e melhoria de vida é outro fator importante a ser pensado quando falamos de empreendedorismo. Afinal, o objetivo do empreendedorismo é oferecer oportunidade econômica. Um exemplo é o do americano Julian Young, que poderia pegar 15 anos de prisão por tráfico, quando um mentor disse que ele era um empreendedor. Ano depois, Young fundou o The Start Center for Entrepreneurship (O Centro de Início do Empreendedorismo), uma organização que ajuda mulheres e minorias a lançarem seu próprio negócio.

Infelizmente, o empreendedorismo ainda não é muito levado a sério dentro das escolas. Uma pesquisa feita pela Ernst & Young (EY) apontou que apenas 15% dos empreendedores presentes no G20 acreditam que seu país apresenta uma cultura de incentivo ao empreendedorismo. A pesquisa defende que os governos devem adotar políticas de educação de longo prazo, a fim de criar uma cultura do empreendedorismo duradoura. A boa notícia é que pequenas iniciativas já estão surgindo no Brasil para reverter essa situação.

Confira alguns bons exemplos

Marcelo Nonohay, de 34 anos, contou em entrevista à EXAME que entrou para o mundo dos negócios aos 16 anos, quando estudou empreendedorismo no colégio. Ele fez parte da primeira turma do programa Miniempresa, da Junior Achievement Brasil. O programa convida os estudantes a criarem o próprio negócio e aprenderem conceitos de gestão na prática.

“Apesar de ser muito jovem, aprendi que ter um negócio não é brincadeira. A experiência empresarial é real, como rentabilidade, projeção de lucro e perdas. Valeu muito a pena ter tido essa vivência”, afirma.

Um outro exemplo de programas de empreendedorismo que estão tendo sucesso no Brasil é o Pedagogia Empreendedora, desenvolvido pelo consultor e professor da Fundação Dom Cabral, Fernando Dolabela. O objetivo do programa é desenvolver o potencial dos alunos para serem empreendedores em qualquer atividade que escolherem: empregados do governo, do terceiro setor, de grandes empresas, pesquisadores, artistas, etc. A ideia do programa é ter uma abordagem humanista, elegendo como tema central não o enriquecimento pessoal, mas a preparação do indivíduo para participar ativamente da construção do desenvolvimento social, com o intuito de melhorar a vida da população e eliminação da exclusão social.

O Sebrae também possui diversos programas de empreendedorismo com foco em crianças e adolescentes, que são desenvolvidos em parceria com as escolas. Além disso, a plataforma também conta com cursos gratuitos sobre empreendedorismo e gestão de negócios para jovens e professores. Clique aqui para saber mais.

A realidade de muitos jovens pode ser mudada com a adoção de um currículo de empreendedorismo em salas de aula. Temos que nos lembrar que o dever da escola é criar cidadãos para o mundo, com habilidades que garantirão sucesso na vida profissional e do desenvolvimento pessoal.

Para saber mais sobre o assunto, assista à palestra de Cameron Harold sobre a importância de educar as crianças para serem mais empreendedoras:

 

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