O mundo precisa ser maternado. A começar por cada um de nós! 

por Paula Pedroso

Vivemos tempos difíceis em nossa sociedade global. Tempos de disputa de poder, territórios, informações, corpos e hábitos. Configurados em guerras, recessões, pandemias, contextos que nos geram muito medo, incertezas e inseguranças, traduzidas em doenças do corpo e da psique, sintomas de ansiedade, depressão, variações de humor e necessidades constantes de satisfação imediatas, os tais “tapa buraco”: “beber ou comer para esquecer”, “hoje eu mereço…”, “Só mais um pouquinho disso…” – mesmo que algo não me faça tão bem em um médio ou, às vezes, curto prazo (o dia seguinte). 

Como alerta o escritor Byung-Chul Han, esse é o resultado da sociedade de consumo e produção, que cria uma sociedade do cansaço, adoecida e carente de conexões reais e duradouras, de intimidade e segurança emocional. Além disso, considera-se o fato fundamental de que os seres humanos pertencem à classe dos mamíferos, que são essencialmente sociais, gregários e dependentes uns dos outros para sobreviverem e se desenvolverem tanto individualmente quanto em grupo. 

Nesse cenário, com os avanços das pesquisas em neurociência e saúde mental, compreende-se que a segurança emocional é construída em e a partir de relações empáticas e acolhedoras, que permitem a cada pessoa se individualizar  em seus contextos, a partir de suas interações, aprendizagens e história pessoal, familiar e sistêmica, entrelaçadas por sua cultura e genuinidade. Ou seja, precisamos nos “maternar” para diminuir a força do paternalismo, que nos impulsionou para os importantes avanços tecnológicos e industriais. É urgente diminuir os impulsos, ações e a manutenção dos comportamentos e paradigmas machistas e  patriarcais, que nos levaram a esse ponto exacerbado de competição, submissão, comparação e necessidade de disputas e extermínios. Precisamos harmonizar nossas relações e emoções de forma ampla.

“Maternar” está associado ao ato de cuidar, originando-se da palavra “mãe” e da função que exercem com seus filhos e filhas. Longe de ser caracterizado aqui como um ato apenas exercido por mulheres. “Maternar” é visto como uma expressão do feminino presente em todos os seres humanos, em maior ou menor grau, dada a complexidade que nos torna únicos e genuínos em essência. Essa é uma ação exercida por mães, pais, familiares, amigos, professores e educadores. Não se trata de substituir a mãe, mas de cuidar do outro com atenção às suas necessidades específicas. 

Além de maternar os outros, precisamos aprender a “automaternagem”, isto é, o autocuidado, reconhecendo a importância de nos ouvirmos, compreendermos e acolhermos nossas emoções, sentimentos, talentos e dificuldades. Esse processo se desenvolve em interação com outras pessoas, à medida que nos vemos refletidos em seus olhares, que nos marcam com seus significados e significantes. Isso também se aprende nas escolas!

Nessa percepção da essencialidade dos ambientes sociais, a escola desempenha um papel crucial, pois é o local no qual adquirimos o patrimônio cultural da humanidade, conhecemos histórias e desenvolvemos habilidades pessoais. A escola é uma comunidade de aprendizagem, responsável por semear, cultivar e garantir que as mudanças necessárias sejam vividas e aprendidas por crianças e jovens e também experimentadas por adultos. Lá, aprende-se e pratica-se a cidadania, o protagonismo, a cooperação, a sustentabilidade, valores ecológicos, além do respeito e entendimento às diversidades. 

Há uma frase muito repetida nas redes sociais: “A revolução é e precisa ser feminina”. Muitas vezes mal interpretada, não se refere ao feminismo de forma excludente ou à submissão dos homens às experiências vividas pelas mulheres. Ela visa, ao contrário, promover um equilíbrio nas ações, uma conexão e respeito mútuos entre os seres humanos, independentemente de gênero, classe, nacionalidade, etc. 

A revolução que precisamos cunhar é feminina pois se fundamenta na maternagem, no cuidado, na agregação, no respeito, na equidade e na responsabilidade pessoal, social e planetária. Reconhece-se que as mulheres, devido à sua  disposição e capacidade de fazer diferente, de acreditar, esperançar, amar e agregar, usando a criatividade com os recursos disponíveis, são mestras e grandes professoras nesses aspectos. Assim, convido as mulheres a fortalecerem sua energia feminina e os homens a deixarem aflorar esse aspecto em si, para descobrir a satisfação indescritível de uma vida mais conectada, instintiva e intuitiva. 

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