Formação de professores valorizada e preparação gradual na pré-escola: entenda as diferenças entre a educação da Polônia e a do Brasil

A Polônia passou por uma reforma educacional profunda nos anos 1990 e, hoje, se destaca em avaliações internacionais, como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA). 

Ao analisar seu modelo, encontramos estratégias que podem inspirar mudanças no cotidiano escolar brasileiro, colocando o aluno no centro do processo e o professor como peça-chave dessa transformação.

Neste artigo, vamos entender como funciona a educação na Polônia, compará-la com a educação no Brasil e refletir sobre o que podemos adaptar à nossa realidade — da Educação Infantil ao Ensino Médio.

Estrutura e princípios da educação polonesa

Na Polônia, a educação é obrigatória dos seis aos dezoito anos, mas a pré-escola é fortemente incentivada a partir dos três anos, com alta taxa de adesão. O sistema é centralizado: o Ministério da Educação define diretrizes nacionais e garante um currículo uniforme em todo o território. A formação de professores é altamente valorizada, e a profissão possui alto respeito pela sociedade.

A divisão escolar polonesa funciona da seguinte forma:

  • Przedszkole (Educação Infantil): dos 3 aos 6 anos.
  • Szkoła Podstawowa (Escola Primária): dos 6 aos 14 anos.
  • Szkoła Ponadpodstawowa (Ensino Médio): a partir de 14 anos, podendo durar 4 ou 5 anos, dependendo do percurso.

O Ensino Superior é gratuito em universidades públicas, com processo seletivo nacional.

Educação Infantil | Przedszkole: base para a vida escolar

Na Polônia, a pré-escola não é apenas um espaço de cuidado, mas também um ambiente de preparação gradual para a vida escolar. As atividades lúdicas estão presentes, mas já existe um estímulo leve e equilibrado para o desenvolvimento de habilidades de pré-alfabetização, raciocínio lógico e socialização.

No Brasil, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) também coloca o brincar como eixo central, mas há variações na prática. Em algumas redes, o foco no lúdico está se perdendo para a antecipação de conteúdos formais.

O que podemos aproveitar e incorporar em nossa realidade?

Propor atividades que misturem ludicidade e habilidades preparatórias, como jogos que trabalhem linguagem e matemática de forma divertida, garantindo uma transição para Ensino Fundamental.

Ensino Fundamental |Szkoła Podstawowa: foco em bases sólidas e continuidade

Na Szkoła Podstawowa, os primeiros anos são dedicados a garantir um domínio firme de leitura, escrita e matemática, com atenção individualizada. A avaliação é contínua, e as turmas contam com um professor principal nos anos iniciais, reforçando o vínculo e a personalização do ensino.

No Brasil, o Fundamental I também conta com professor regente, mas as condições de trabalho e o tamanho das turmas podem dificultar a personalização. No Fundamental II, a transição para vários professores às vezes, fragmenta o acompanhamento do aluno.

O que podemos aproveitar e incorporar à nossa realidade?

Criar estratégias para manter o acompanhamento próximo mesmo no Fundamental II, como tutoriais, projetos interdisciplinares ou reuniões regulares para discutir o progresso de cada estudante.

Ensino Médio | Szkoła Ponadpodstawowa: caminhos diversificados e orientação ao futuro

A Szkoła Ponadpodstawowa, o Ensino Médio na Polônia, oferece diferentes percursos:

  • Liceum Ogólnokształcące: acadêmico, voltado para a universidade.
  • Technikum: técnico, com possibilidade de ingresso no ensino superior.
  • Branżowa Szkoła I Stopnia: formação profissional prática, geralmente seguida por inserção direta no mercado de trabalho.

A escolha é feita com base no desempenho, nos interesses e na orientação vocacional de cada aluno, que é uma parte estruturada do currículo.

No Brasil, o Novo Ensino Médio introduziu itinerários formativos, mas a implementação ainda enfrenta barreiras, como a falta de professores especializados e ofertas pouco diversificadas..

O que podemos aproveitar e incorporar à nossa realidade?

Incluir práticas de orientação vocacional mesmo em escolas sem programa formal, por meio de palestras, visitas técnicas e rodas de conversa com profissionais de diferentes áreas.  Tudo isso pode ampliar o horizonte dos alunos e estimular os mesmos a se desenvolver de acordo com suas habilidades pessoais. 

Valorização e formação docente

Na Polônia, ser professor exige formação universitária específica, estágios supervisionados e avaliações periódicas. Há uma cultura de desenvolvimento contínuo e respeito social, o que contribui para atrair bons profissionais à carreira.

No Brasil, apesar de avanços na formação inicial, a carreira docente enfrenta desvalorização salarial, sobrecarga e, muitas vezes, falta de condições adequadas para a prática.

O que podemos aproveitar e incorporar à nossa realidade?

Buscar redes de apoio e formação continuada, mesmo fora do ambiente escolar, para fortalecer sua prática e promover a troca de experiências.

Um convite para inovar na nossa realidade

Olhar para a educação polonesa não sugere que nossas escolas copiem fórmulas e métodos, mas que sejam inspiradas a criar soluções adaptadas ao nosso contexto. 

Seja na Educação Infantil, no Ensino Fundamental ou no Ensino Médio, há pontos fortes que podemos traduzir para a escola brasileira: 

  • Equilíbrio entre ludicidade e preparo acadêmico.
  • Acompanhamento próximo e individualizado.
  • Caminhos diversificados para o Ensino Médio. 
  • Valorização do professor.

Pequenas ações, como ajustar a forma de acompanhar o progresso dos alunos, abrir espaço para a voz deles nas decisões e diversificar atividades, podem, aos poucos, transformar a experiência escolar e preparar nossos estudantes para um futuro mais promissor.

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