Confira a entrevista com a psicóloga clínica Talita Fabiele Karasinski e saiba como os professores podem orientar os alunos.

Em setembro, todos voltamos à atenção para uma causa muito importante: a prevenção do suicídio. Mas, além de discutir o assunto entre os adultos, também é essencial debater o setembro amarelo nas escolas. Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) de 2017, o suicídio já é a quarta maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.

Por outro lado, há como prevenir. Ainda de acordo com a OMS, o suicídio tem prevenção em 90% dos casos. É aí que o professor pode ter um papel fundamental na identificação e acolhimento de jovens e crianças com transtornos mentais já que, principalmente entre os estudantes mais velhos, cerca de 96,8% dos casos de suicídio estão relacionados a problemas como depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de drogas.

Para nos aprofundar mais no assunto, conversamos com a psicóloga clínica Talita Fabiele Karasinski. Acompanhe e tire suas dúvidas.

Setembro amarelo nas escolas

Suicídios podem ocorrer sem aviso prévio, mas na maioria dos casos são precedidos de alguns sinais verbais e comportamentais, principalmente entre adolescentes. Desse modo, se devidamente reconhecidos, podem levar a uma intervenção precoce.

Como os professores passam muito tempo com os alunos, eles podem ser os primeiros a perceber as mudanças de comportamentos.

A psicóloga Talita Karasinski explica que não é muito fácil descobrir quando um aluno não está bem. “Por isso, é preciso se atentar aos pequenos sinais”, afirma.

Ela orienta que é importante prestar mais atenção se o aluno começa a se comportar de modo mais retraído, mostrar tristeza profunda, descrença em si mesmo, alterações de apetite, sono e rendimento escolar. “O uso de drogas lícitas ou ilícitas também pode indicar que algo não está bem. Além disso, alguns sinais gritantes incluem automutilação, falar claramente em pensamento suicidas, frequente oscilação de humor, depressão, isolamento, falta de sentido de viver”, alerta Talita.

Como os professores podem ajudar

Lidar com essa situação é extremamente delicado, mas a psicóloga fala que o aluno precisa confiar em alguém, sejam pais ou professores, porque ele tem necessidade de se sentir acolhido e ter uma pessoa que o escute.

“Quanto maior for o grau de confiança, menores os riscos de o aluno omitir que está com o pensamento de colocar sua vida em risco. É importante que esse adolescente tenha uma rede de apoio e escuta”, afirma Talita.

É preciso saber identificar os comportamentos da criança

Existem situações e condições associadas a um maior risco de uma pessoa cometer suicídio. Sendo assim, é muito importante que os professores reconheçam as indicações para que possam ajudar alunos em possíveis situações:

  • Tentativas de suicídio anteriores.
  • Problemas de saúde mental (depressão, ansiedade).
  • Uso de álcool e outras substâncias entorpecentes.
  • Sentimentos de desesperança, desamparo, culpa, solidão, inutilidade, baixa autoestima.
  • Perda de interesse em amigos, hobbies ou atividades que antes gostava.
  • Comportamento agressivo.
  • Bullying e cyberbullying (tanto a vítima quanto o agressor).
  • Comportamento perturbador, incluindo questões disciplinares na escola ou em casa.
  • Perda recente de pessoas queridas.
  • Histórico familiar de suicídio.
  • Violência (violência doméstica, abuso infantil ou negligência).
  • Orientação sexual e confusão de identidade (falta de apoio ou ocorrência de bullying durante o processo de assumir-se).
  • Acesso a meios letais, como armas de fogo, pílulas, facas ou drogas ilegais.

Como identificar as mudanças de comportamento?

Segundo Talita, a ansiedade se inicia com as preocupações da vida, até mesmo quando a criança ainda é muito pequena, com a perda do sono devido a uma lição, com o coração acelerado, suor desproporcional e muita irritabilidade.

A psicóloga também explica que se deve ter atenção com os adolescentes porque, nessa fase, eles já começam a tomar decisões envolvendo o futuro profissional e têm os primeiros relacionamentos amorosos. Fatores que podem servir de gatilhos para transtornos mentais.

“A depressão apresenta sintomas como isolamento, tristeza, choro e terror noturno. A criança ou o adolescente já não demonstra vontade de viver, prefere ficar isolado. E quando desenvolve algum transtorno mental como a bipolaridade, o borderline ou a depressão, a sua dor é amplificada, aumentando assim o risco de suicídio”, esclarece Talita.

Como a escola pode ajudar?

Para Talita, o professor deve ficar atento aos casos de bullying, de isolamento e automutilações.

“Caso perceba que algo sério está acontecendo com o aluno, chame-o para uma conversa, pergunte abertamente sobre a morte, sua vontade de morrer, se pensou em planejar algo. Ouça sem julgar e depois fale que está preocupado com ele e que irá dividir com seus pais” afirma Talita.

Ajuda profissional

Procurar ajuda profissional é fundamental, seja quando for pedido pelo aluno ou quando o professor constatar a necessidade.

“A terapia ajuda o aluno a se tornar mais consciente das suas necessidades e sentimentos, como também a ter mais recursos para lidar com suas emoções e aceitar que temos dias bons e outros nem tanto, mas que é possível viver assim”, explica a psicóloga.

Ela ainda lembra que o professor pode entrar em contato com o CVV (Centro de Valorização da Vida) ou com serviços de psicologia de faculdades que oferecem atendimentos gratuitos.

A CVV é uma associação que presta serviço voluntário de apoio emocional e prevenção do suicídio, tudo anonimamente e de graça. Os professores ou pais podem entrar em contato com o CVV pelos telefones 188 (24 horas e sem custo de ligação), pessoalmente (são mais de 120 postos de atendimento aqui), pelo site www.cvv.org.br, por chat e e-mail.

Como ajudar sem o apoio dos pais?

É importante lembrar que abusos e violência doméstica podem causar transtornos mentais e levar crianças e adolescentes à tentativa de suicídio.

Quando o professor identifica um aluno com esses problemas, deve procurar ajuda psicológica e, em muitos casos, o conselho tutelar, para que essa criança seja devidamente amparada.

Como trabalhar o assunto em sala de aula?

Trabalhar o setembro amarelo em sala de aula não é uma tarefa fácil, uma vez que é um assunto muito delicado.

Mas a psicóloga reforça a importância de abordar o suicídio entre os alunos. “Nas escolas, é preciso abordar esse tema de forma constante para que os jovens encontrem na escola uma rede de apoio. E nunca tratar o assunto como tabu”, explica.

Além disso, os professores podem trabalhar de forma indireta, tratando assuntos mais gerais, mas que são as causas de muitos transtornos mentais. Sendo assim, o professor pode abordar em sala de aula temas como:

São essas atitudes preventivas que podem fazer com que o setembro amarelo nas escolas seja cada vez mais efetivo e os casos de suícidio diminuam. Mas, além da saúde mental dos alunos, os professores também devem estar bem. Veja aqui cinco dicas de cuidados com a saúde mental dos professores.

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