Educação socioemocional, Base Nacional Comum Curricular e Movimento Maker. Se fossemos resumir o encontro da maior feira e congresso de educação do Brasil, a Bett Educar 2018, seriam esses três temas os mais debatidos e expostos nos auditórios, stands e corredores do evento.
Desses, sem dúvida a Base Nacional Comum Curricular – BNCC – aprovada recentemente, foi o alicerce de todas as discussões. Por um lado ficamos aliviados de que isto esteja finalmente acontecendo na prática, por outro fica aquela sensação constante de que demoramos muito. Estamos atrasados sim se comparados a vários países, porém antes tarde do que nunca. Afinal, só a partir dessa nova base nacional curricular é que vislumbramos alguma mudança para a educação brasileira, mesmo sabendo que para a maioria nas escolas públicas esse processo será mais lento e penoso, e isso é o mais preocupante. Mas está aí, que a BNCC seja absorvida, discutida e adaptada às várias realidades do país.
Já o tema da educação socioemocional, também esteve entre as principais pautas do evento, nas rodas de conversas, como também nas palestras e painéis. A nova BNCC sem dúvida é um dos motivos dessa discussão, afinal muitas das habilidades socioemocionais debatidas para a educação fazem parte dela. Porém, acima de tudo, falar de habilidades socioemocionais para a educação se tornou obrigatório e urgente diante de um mundo em constante mudança que exige cada vez mais dos jovens inúmeras habilidades que passam longe do ambiente conteudista e tradicional presente nas escolas. Habilidades como poder de adaptação, autocontrole, comunicação, liderança, colaboração e criatividade são cruciais para esse mundo que inova.
Entretanto, há que se tomar muito cuidado em pregar apenas o discurso bonito e modelos prontos e não a prática verdadeira e aplicada em diferentes contextos de realidades brasileiras. Não se trata de falar de habilidades socioemocionais de maneira isolada e fragmentada. É preciso que tais habilidades sejam transversalmente trabalhadas e aplicadas na escola onde tanto o professor de filosofia quanto o de história e matemática, e todos os demais, saibam aplicá-las conforme as necessidades, conteúdos e suas diferenças. E, para que isso aconteça, a principal mudança deve ser realizada dentro de cada professor em comunhão com toda a escola e a realidade local. Deve ser pensada e aplicada conforme o contexto de cada comunidade. Fazer parte do currículo apenas, sem prática clara e transversal, será o mesmo que fazer uma pintura nova numa parede sem antes lixá-la.
E, finalmente, a feira se tornou um grande espaço maker. Muitos stands com propostas encantadoras para vender serviços e produtos e transformar escolas em espaços com tecnologia para criar laboratórios makers. Nesse quesito é preciso também muita cautela e saber separar as propostas sérias e práticas daquelas que seguem a onda e só querem surfar nela.
Esse conceito maker, ou seja, espaços onde alunos possam criar e aprender fazendo, pode ser aplicado de diferentes formas dentro de uma instituição e não apenas com tecnologia e altos investimentos. Ser maker é apenas uma palavra bonita para dizer simplesmente que temos capacidade de realizar e fazer, afinal nascemos pensantes, criativos e realizadores. Portanto restringir “Espaços Makers” à tecnologia, impressora 3D ou equipamentos caros é limitar sua aplicabilidade, que pouquíssimos terão condição de fazer.
Um espaço maker pode ser feito com recicláveis e materiais simples e baratos que podem despertar a essência de sua proposta, o incentivo à criatividade e à prototipação de ideias para a inovação. Um espaço para imaginar e (des)construir. Quando realizamos o curso de inovação aplicada a executivos na D.School dentro da Universidade de Stanford, uma referência em inovação no mundo, fomos desafiados inúmeras vezes a criar e prototipar ideias a partir de objetos muito simples e baratos como restos de canos, papelão, palitos de sorvete, isopor, pedaços de tecido e tudo que é tipo de cacareco que se possa imaginar. E os resultados eram sempre surpreendentes. Ser maker é natural de cada criança e jovem junto com sua capacidade criativa. Portanto, cabe às escolas -e porque não às famílias? – serem condutores desses talentos para que possam expressá-los das mais diferentes maneiras, com ou sem tecnologia. Sejamos makers na essência e não apenas na forma.
*Texto retirado da Gazeta do Povo