Nas últimas semanas os caminhoneiros brasileiros paralisaram suas atividades para reivindicar que o governo federal reduzisse para zero a carga tributária atribuída ao diesel (Cide e PIS/Cofins), que foi aumentada nos últimos meses, a partir da política de preços determinada pela Petrobrás.
Desde o dia 18 de maio, o movimento dos caminhoneiros bloqueia rodovias e cancela a entrega de cargas para pressionar a solução de suas reivindicações. Apenas cinco dias depois, quando os reflexos da paralisação resultou na falta de produtos alimentícios e gasolina em mercados e postos de gasolina de todo o país, é que o governo se reuniu com representantes dos caminhoneiros para discutir um acordo.
Mas, não é de hoje que greves e paralisações da classe trabalhadora influenciam no dia a dia das pessoas e, com isso, afetam o curso da história. Elas podem ser usadas como estratégia de pressão dos trabalhadores que reivindicam melhores salários ou condições, como manifestação política, ou para destituir políticos, como forma de protesto em prol de direitos, e até alternativa para propor novos regimes governamentais.
A primeira greve que se tem registro marca de 1152 a.C., quando os artesãos do Egito Antigo paralisaram sua atuação durante o reinado de Ramsés III. Já no Brasil, o marco é de 1858, quando os trabalhadores dos tipógrafos dos jornais “Jornal do Comércio”, “Diário do Rio de Janeiro” e “Correio Mercantil, pararam sob a reivindicação de aumento salarial.
Para você entender como esse tipo de movimento afeta no curso da história, listamos 11 greves que tiveram papéis determinantes na rotina das pessoas daquele momento:
1. Greve das operárias de Pawtucket (1824)
Esse movimento que aconteceu em Rhode Island, nos Estados Unidos, é considerado a primeira greve numa fábrica da história. 102 trabalhadoras da indústria têxtil abandonaram seus teares após os proprietários anunciarem o aumento da carga horária e redução dos salários. A paralisação também contou com o apoio e participação de homens e crianças operárias, artesãos e fazendeiros, e só chegou ao fim quando os donos de fábricas voltaram atrás com suas mudanças e os salários e cargas horárias de antes foram restituídos.
2. Protesto “Pão e Terra” (1917)
Na cidade de São Petersburgo, na Rússia, em média 90 mil operárias foram às ruas da cidade no dia 8 de março de 1917, para protestar contra as condições de trabalho às quais eram submetidas, ao regime do czar Nicolau II, contra a fome e contra a participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial durante o cenário político que acabou na Revolução Russa – naquele mesmo ano. Em 1921 a data deste protesto foi oficializada como Dia Internacional da Mulher.
3. Greve geral no Brasil (1917)
Contra a inflação elevada da época, 50 mil trabalhadores organizados a partir de sindicatos anarquistas se reuniram e paralisaram as vendas nos comércios e a produção em indústrias, para reivindicar aumentos salariais que compensassem os altos valores cobrados pelos produtos de necessidades básicas. Nesse episódio eles também clamaram por uma jornada de trabalho de oito horas diárias e condições de trabalho mais justas e dignas.
4. Greve geral na França (1968)
O mês de maio desse ano foi marcado por uma forte movimentação entre os trabalhadores franceses, que levou 9 milhões de pessoas, entre estudantes das universidades e escolas secundárias e trabalhadores, a se mobilizarem em prol da reforma da educação e melhores condições e aumento de salário, respectivamente. Porém, a greve dos trabalhadores foi contida com o aumento salarial e pela convocação de eleições gerais, pelo presidente da época – Charles De Gaulle, enquanto que o movimento estudantil foi combatido por ações policiais.
5. Greve geral das mulheres (1975)
No dia 24 de outubro, 90% das mulheres da Islândia foram às ruas para expor sua importância para a sociedade e reivindicar direitos iguais em relação aos homens. Nesse momento, essas mulheres se recusaram a cozinhar, trabalhar, ou mesmo cuidar das crianças. Fruto desse movimento foi a primeira mulher a ser eleita presidente em um país democrático – Vigdis Finnbogadottir ficou no cargo por 16 anos. Essa ação deu à Islândia o reconhecimento popular de “país mais feminista do mundo”.
6. Greve dos metalúrgicos do ABC (1978-1980)
Com o aumento significativo na inflação e o fim do período conhecido como Milagre Econômico (no qual a economia brasileira tinha um crescimento de dois dígitos), os trabalhadores das metalúrgicas do ABC paulista ficaram descontentes com suas condições de trabalho. A primeira ação dos manifestantes foi a paralisação da fábrica Saab-Scania, em 1978, sob a reivindicação de aumento salarial em 20%. Mas, o que iniciou como um protesto reivindicando melhores condições econômicas, passou a ser um movimento contrário ao regime militar brasileiro. O ápice das paralisações aconteceu em 1980, com 300 mil metalúrgicos em greve durante 41 dias. Esse foi o mesmo ano em que Luiz Inácio Lula da Silva – que teve sua liderança e carreira política estimulados pelo movimento, foi preso e enquadrado na Lei de Segurança Nacional.
7. Greve no estaleiro Gdansk (1980)
17 mil trabalhadores dos estaleiros navais de Gdansk, na Polônia, declararam greve no dia 14 de maio de 1980, após um integrante de um sindicato independente ter sido demitido. A greve se espalhou por todo o país e acarretou em uma crise política que, alguns anos mais tarde, derrubou o regime comunista da Polônia, alçando o líder sindical Lech Walesa para a presidência nacional, em 1990.
8. Greve dos controladores de voo (1981)
Esse movimento que mobilizou 13 mil controladores de voo ocorreu no mês de agosto, nos EUA. A paralisação iniciou após o sindicato da categoria decidir reivindicar por aumentos salariais e redução da jornada de trabalho para 32 horas semanais. A greve foi declarada ilegal pelo presidente Ronald Regan, que estipulou o prazo de 48 horas para os manifestantes voltarem às atividades. Os grevistas não atenderam a ordem, foram demitidos e substituídos imediatamente por novos trabalhadores treinados secretamente na Casa Branca – que soube antecipadamente da deflagração do movimento.
9. Greve geral contra a inflação (1989)
Há registros de que 70% da população economicamente ativa do Brasil, na época (cerca de 59 milhões de trabalhadores) participaram dos protestos que ocorreram nos dias 14 e 15 de março de 1989, contrárias a hiperinflação. Em 12 das 26 capitais brasileiras o movimento não funcionou. Nessa época, a inflação oficial do país atingia, em média, 1000% ao ano.
10. Greve geral dos roteiristas de Hollywood (2007 – 2008)
As greves não são ações que atingem apenas operários, mas também atuam em segmentos conhecidos como “bens imateriais”, como no caso dos roteiristas de filmes, programas e séries de TV de Hollywood, entre os meses de novembro de 2007 e fevereiro de 2008. Eles reivindicavam o aumento de 3.5% nos honorários e divisão dos lucros acumulados a partir das novas mídias. A greve atrasou o andamento de produções famosas como “How I Met Your Mother”, “House”, “Two and a Half Men” e “The Big Bang Theory”.