Em março de 2017, a Inglaterra anunciou uma nova lei que obriga as escolas inglesas a terem aulas de educação sexual. A medida, que ainda está em fase de implementação, propõe começar a ensinar educação sexual para crianças a partir dos 4 anos de idade.

Esse debate já vem sendo travado desde 2015, quando o projeto de lei propôs que crianças a partir de 11 anos começassem a ter aulas de educação sexual, mais especificamente aulas sobre consentimento em relações sexuais.

O objetivo expresso é fazer com que os alunos tenham “uma melhor compreensão sobre a sociedade em que vivem, para que assim possam tomar decisões de uma maneira mais bem informada e ficarem mais seguros.”

Segundo o governo, para que isso aconteça, é fundamental para o jovem entender o que é dar ou receber um consentimento sexual, saber perceber quando algo ou alguém passou dos limites e ter informações sobre a quem recorrer quando isso acontece.

O Ministério da Educação britânico quer colocar em prática dois objetivos diferentes para o programa. O primeiro é dar aos jovens ferramentas para navegar por situações românticas normais com pessoas do seu convívio, em um cenário em que um ou os dois envolvidos possam ir longe demais com algo que eles não estão maduros para entender completamente.

Identificando abusos

O segundo objetivo é um pouco mais complexo, já que a ideia é preparar o jovem para que identifique e se proteja de abusos ou de exploração por parte de um adulto.

Segundo os parlamentares, a importância de ensinar esses temas aos jovens foi evidenciada recentemente, quando veio à tona um caso de estupro sistemático de adolescentes por um grupo de homens adultos.

Outras evidências mostravam como jovens frequentemente não conseguiam determinar claramente as barreiras pessoais que eles deveriam e/ou gostariam de impor.
Por exemplo, um estudo mostrou que uma em cada cinco garotas disse achar certo quando o parceiro dizia que roupa ela deveria ou não usar.

Escolas brasileiras

Especialistas britânicos, no entanto, criticaram a proposta do governo, pelo fato de o programa não ser obrigatório nas escolas. No Brasil, as críticas vão no mesmo sentido, já que há programas isolados sobre educação sexual tanto na rede pública como nas escolas particulares, mas não há um projeto sistemático no currículo dos alunos.

Para a educadora sexual e diretora do Instituto Kaplan, Maria Helena Vilela, o Brasil já caminhou na questão da educação sexual, mas ainda tem um longo caminho pela frente.

“No âmbito das escolas públicas, já se tentou criar um parâmetro para que a educação sexual fosse um tema transversal, ou seja, atravessasse diversas matérias. Mas sem verbas e nem capacitação suficientes, o projeto não foi adiante”, diz a educadora.

Vilela ainda acrescenta que: “Mas especialmente na rede estadual, há instituições que promovem programas de educação sexual, porque é na escola pública onde se vê a gravidez na adolescência de perto e, consequentemente, a evasão escolar das meninas que ficam grávidas.”

Para Vilela, no entanto, nas escolas particulares isso não ocorre com tanta frequência: “Porque elas abortam ou mudam de escola.”

Esse é um dos motivos pelos quais, segundo a educadora, mesmo as escolas que teriam verba para investir em educação sexual não o fazem. “Muitos diretores também acreditam que o problema é dos pais, e não deles”.

Angústia sexual

Segundo Vilela, que coordena programas sobre o tema, primeiro é preciso estabelecer qual o objetivo pretendido com o projeto.

“Esse projeto britânico joga luz na questão do consentimento, certo? E aqui no Brasil, o que queremos? Quais as prioridades? Tratar de gravidez precoce? De doenças sexualmente transmissíveis (DST), de diversidade sexual?”

Para a educadora também é necessário deixar claro que projetos de educação sexual não estimulam a sexualidade precoce, como muitos acreditam.

“Os jovens vão aprender de qualquer forma. Então é preciso criar condições para que percebam onde está o risco, minimizá-lo, e dar ferramentas para que eles lidem melhor com o corpo e assim tomem decisões mais espertas.”

Além de disso, ela explica que educação sexual não é apenas para prevenir gravidez ou DSTs, mas também para ajudar o jovem a absorver o conteúdo escolar.

“A educação sexual diz respeito à relação do jovem com ele mesmo, algo muito importante durante a puberdade, quando cada dúvida faz ele se desconcentrar do que está se ensinando. Uma garota na dúvida se está ou não grávida ou se vai menstruar, um garoto pensando em detalhes sobre a primeira relação sexual…. eles não vão se preocupar com a matéria que o professor está dando. Qual a importância da aula de Matemática ou de Física perto das suas dúvidas? Nenhuma. Por isso que a angústia sexual mina o aprendizado.”

Questionado pela BBC Brasil sobre o ensino de educação sexual nas escolas, o Ministério da Educação afirmou que apoia e incentiva “projetos nas áreas de educação em direitos humanos, prevenção e enfrentamento ao preconceito, à discriminação e à violência no ambiente escolar”.

Impacto real

Mas essas aulas têm mesmo efeito? Estudos feitos nos Estados Unidos indicam que os alunos que participaram dessas classes atrasam sua primeira experiência sexual e têm maior probabilidade de usarem camisinha ou outro método anticoncepcional.

Um levantamento divulgado pela Unesco – que analisou estudos em 87 países – também demonstrou que a educação sobre sexualidade pode levar a um comportamento sexual mais tardio e mais responsável.

*Texto retirado da BBC Brasil.
Adaptado por Transformando.com.vc.

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