Certa vez, fui surpreendido com uma mensagem que chegou ao meu celular. Era de uma colega de trabalho que, na época, estava à frente de uma escola de educação infantil, na função de diretora geral. Na mensagem, ela se orgulhava das fotos que me mandava pelo aplicativo, que foram tiradas em um evento que estava acontecendo com as crianças no Dia do Circo. Uma a uma, as fotos foram chegando ao meu celular.
Eram mesmo fotos lindas!
Havia professoras com fantasias de palhaços, crianças com maquiagens e alocadas em um picadeiro construído com pallets embaixo de uma lona que caracterizava o circo montado naquele pátio. Adereços, fantasias, cores, alteração de espaço de trabalho com as crianças, pipocas…
– Sergio, olha as fotos do projeto Dia do Circo que estamos realizando hoje com as crianças! – escreveu a diretora a mim.
Ao todo, foram oito fotografias, muito bem tiradas do projeto.
– Professora, diga-me uma coisa: o que vocês estão trabalhando com as crianças nesse projeto? Quais são os objetivos de trabalho? – questionei.
Mesmo tendo visualizado minha pergunta no aplicativo, não obtive resposta rápida, por isso, tornei a questioná-la sobre o motivo que a levava a desenvolver aquele projeto, Dia do Circo, com as crianças da educação infantil.
– Ah, Sergio. Para de ser sem graça! As crianças estão todas felizes. A escola está linda, colorida, divertida e você vem com esse papo de objetivos?
Esse é o grande desafio do professor: fazer com que as atividades escolares sejam divertidas, coloridas, alegres… mas que nunca deixe de haver propósitos para o que se faz. Qualquer que seja a atividade ou conteúdo trabalhado com as crianças na escola, em qualquer nível, é preciso ter plena consciência, por parte dos docentes, do verdadeiro objetivo com o trabalho.
Em cursos de graduação ou mesmo de formação continuada, quando sou convidado a conversar com futuros educadores, costumo sempre afirmar que, todas as vezes que colocamos o pé dentro da sala de aula, é preciso ter um propósito e, ao sair, deve-se refletir se foi ou não cumprido o objetivo pretendido.
Acredito que, no caso do exemplo, por se tratar de crianças pequenas, muito do que se orienta que trabalhe com essa faixa etária tenha sido contemplado nas atividades de apresentação artística, nas canções e fantasias de palhaços e nas interações entre elas… mas sempre é necessário a consciência do professor sobre aquilo que se faz.
A Festa Junina como um evento a ser estudado
O mês de junho é marcado nas escolas pelas tradicionais Festas Juninas. Pipoca, amendoim, bandeiras e balões tomam conta da sala de aula em momentos de confraternização com as famílias e comunidades. Além disso, as típicas danças – as chamadas quadrilhas – fazem parte das apresentações para esse evento, que é um dos mais esperados do ano para as crianças.
Mas, afinal, o que realmente significa uma festa em que há danças, comidas típicas, fogueiras e vendas de produtos em barracas? Um evento como a Festa Junina é uma excelente oportunidade de aprendizagens sobre as histórias e tradições culturais. Mais do que um evento de confraternização, é importante que se compreenda, por parte da escola, a importante oportunidade que há em um evento como esse para a mobilização de saberes.
A mediação docente para que a Festa Junina, como qualquer outro evento escolar, faça sentido para os alunos é fundamental nesse processo. Atividades criativas de pesquisa, apresentações de trabalho, leituras sobre o tema, atividades de construção e artes colaboram de forma significativa e ressignifica o que realmente se entende por uma cultura da tradição junina. A caracterização dos alunos nas danças típicas, muitas vezes de forma equivocada, apresentando uma cultura rural e de um sertanejo mal-vestido, com roupas rasgadas, maquiagens exageradas, vestidos e camisas xadrez, dentre outras características, acaba sem a devida compreensão por perder seu verdadeiro sentido.
Desse modo, é importante que, assim como defendemos no início desse texto, que se tenham intencionalidades pedagógicas para o que se pretende com os projetos e eventos escolares, como é o caso das Festas Juninas, para que, em tudo que se faça, haja aprendizagens nas interações entre os alunos a partir de uma intervenção docente.
A proposta que aqui defendo não é a de se “didatizar” tudo o que acontece na escola, uma vez que acredito que as interações e atividades espontâneas sejam muito importantes para a formação integral dos alunos, mas, e sobretudo, ter um olhar atento às inúmeras possibilidades de ensino e aprendizagem que devam acontecer na instituição escolar que colaborem para a aprendizagem não apenas orientadas pelos manuais, documentos ou livros didáticos, mas considerando a rotina e a vida social dos alunos.
Assim, considerar que, em um evento como a Festa Junina, haja inúmeras possibilidades de aprendizagem sobre a vida, a cultura, sobre o outro, é ter um olhar para o currículo escolar que respeite as culturas em que se inserem e que produzem.