O dia 22 de agosto é a data nacional que celebra o Dia do Folclore, para nos lembrar da importância da valorização e resgate das culturas e tradições que compõem a identidade do nosso país. O folclore é um conjunto de costumes, crenças, parlendas, mitos, conhecimentos, contos, lendas, adivinhações e festas populares que permeiam desde histórias infantis até a constituição da preservação das origens de nossa cultura.
O folclore brasileiro que conhecemos é fruto da união e mescla de várias características das pessoas que povoaram nosso território, como os indígenas, africanos e europeus. E para que você aprenda um pouco mais sobre a riqueza das nossas tradições e se inspire para abordá-las em sala de aula, preparamos alguns esclarecimentos e dicas que contribuíram à sua rotina.
Cada região tem sua identidade
Somos uma nação muito grande e com diversos costumes que fazem parte das vidas de cada pessoa, conforme a região em que nasceram. No nordeste é comum comer acarajé, no sul existe o hábito do chimarrão, e são tradições como essas que determinam a identidade cultural dos espaços e comunidades da população brasileira.
E isso vale também para as festas populares e lendas que são contadas de pais para filhos, avós para netos. Ou mesmo os personagens que vagam pelas matas e rios, cada um deles é visto e descrito de uma forma, de acordo com as crenças das regiões que falam deles.
Em sala de aula, os professores podem explorar esses conceitos e histórias para estimular que os educandos conheçam e entendam mais sobre a complexidade das etnias e costumes que fazem parte da população brasileira. Compreender a realidade dos outros lugares permite que eles aprendam e respeitem as diferenças e peculiaridades de cada local.
Danças e festas populares
São várias as manifestações festivas que fazem parte dos costumes e folclore do Brasil, que trazem comidas típicas, danças e vestimentas próprias. Destacamos algumas celebrações que podem inspirar atividades e brincadeiras com seus alunos, por meio da comemoração dessas datas:
1. Carnaval (fevereiro)
Desde o início da comemoração do Carnaval, essa festa típica é conhecida por permitir que as pessoas possam usar máscaras ou trocar de identidade. Assim, os foliões – como são conhecidos – têm maior liberdade para se divertirem e, ao mesmo tempo, adquirirem características ou funções diferentes do que são no dia a dia.
A principal característica dessa festa são as marchinhas populares que ganham a boca do povo e invadem as ruas. Músicas como “olha a cabeleira do Zezé, será que ele é…”, por exemplo, podem inspirar discussões sobre o respeito e igualdade entre as relações sociais dos seus educandos.
2. Festa junina (junho)
Também chamada de festa caipira, a comemoração junina é conhecida principalmente pela dança da quadrilha, que é coletiva, bailada em pares e que possui uma coreografia específica baseada em passos tradicionais. Em algumas regiões do Brasil, para os fiéis das tradições católicas, essa celebração também marca o dia de São João e ganha a fogueira como símbolo.
Os quitutes mais costumeiros da festa junina são: pipoca, paçoca, pé de moleque, canjica, cachorro-quente, pamonha, curau, bolo de milho, arroz-doce, pinhão, cuscuz e tapioca. Já as bebidas mais tradicionais são: vinho quente e quentão.
Organize uma quadrilha com os educandos, peça que cada um se responsabilize pelo preparo de uma comida típica e na hora de servi-la eles compartilhem com o grupo as histórias e origens de cada uma.
3. Frevo
O frevo caracteriza-se por ser uma marchinha acelerada ao som de uma banda que segue o estilo dos blocos de carnaval. Ele incorpora elementos de outras danças, tais como maxixe, polca e, inclusive, a capoeira.
Os instrumentos musicais mais utilizados são o trombone, o trompete, o saxofone e a tuba. Uma das características mais marcantes é a utilização de sombrinhas coloridas, objeto que assume um papel importante na dança.
Essa manifestação costuma ser mais comum no nordeste brasileiro, mas ela é super importante para todas as regiões por resgatar a história e alegria dos povos que trouxeram essa tradição para a identidade do nosso país. Crie apresentações e peça que os estudantes decorem suas sombrinhas ou criem seus mascotes para desfilarem enquanto dançam o frevo.
Personagens e lendas
Entre os nomes mais famosos do folclore nacional, existem alguns que são conhecidos em todas as regiões e fazem parte de quase todas as culturas e contações de histórias do nosso país. Vamos resgatar os nomes e um pouquinho das histórias mais populares, para inspirar você a desenvolver atividades e dinâmicas que ensinem aos educandos um pouco mais sobre cada um:
1. Saci-Pererê
A lenda do saci tem origem indígena e fala sobre um menino negro e de uma perna só, que fuma cachimbo, veste carapuça vermelha e apronta muitas travessuras por onde passa. O saci é conhecido por ser muito brincalhão. Entre as suas principais travessuras as mais conhecidas são: fazer a comida queimar; trocar o sal pelo açúcar; fazer tranças no rabo dos cavalos; assoviar para assustar animais e pessoas e esconder objetos domésticos.
As primeiras histórias sobre os sacis são de origem indígena, das tribos do sul do Brasil, que diziam que eles eram pequenos diabinhos, com duas pernas e um rabo. Porém, com a influência da cultura africana, ela foi adaptada durante o passar dos anos, até se transformar na lenda que conhecemos hoje em dia. Os sacis nascem dentro de bambus e depois de adultos vivem por 77 anos, quando morrem se transformam em cogumelos venenosos.
A maioria das histórias sobre saci o consideram como um protetor das ervas medicinais e plantas, pois ele tem um profundo conhecimento sobre as propriedades curativas de toda a flora brasileira.
2. Curupira
Ele também é um menino travesso, mas em vez de ter uma perna só, o Curupira tem seus pés virados para trás. É conhecido por ser o protetor da fauna e flora brasileira contra exploradores e pessoas que desmatam o meio ambiente. Ele usa seus pés para trás para deixar pegadas, como uma artimanha para enganar as pessoas, fazendo com que fiquem presas na mata e não encontrem o caminho para casa.
As primeiras histórias sobre a lenda do Curupira surgiram no século XVI, quando ele era descrito pelos jesuítas como o “demônio que persegue os índios”. Ao contrário do Saci, o Curupira é considerado um ser do maligno, capaz de fazer mal às pessoas e, por essa razão, sempre foi muito temido pelos índios. De acordo com a lenda, o Curupira persegue as pessoas que desrespeitam a floresta, como lenhadores e caçadores. Histórias de raptos misteriosos, estupros e outros casos de violência inexplicáveis que ocorrem nas matas costumavam ser associados ao “demônio da floresta”.
3. Mula Sem-Cabeça
É uma mula que no lugar da cabeça solta fogo pelo pescoço e assusta as pessoas e animais que cruzam seu caminho. A lenda diz que se transforma em mula-sem-cabeça a mulher que se envolve amorosamente com um padre. As histórias populares dizem que a mulher enfeitiçada costuma se transformar em mula-sem-cabeça às quintas-feiras. Passa a noite toda relinchando em desespero e correndo pelas matas, matando tudo o que encontra pelo seu caminho.
A origem desta lenda é desconhecida, mas acredita-se que esteja relacionada com a chegada dos Jesuítas e o catolicismo no país. De acordo com a história, toda a mulher que se apaixonava por um padre se transformava em mula-sem-cabeça. Isso porque, antigamente, os sacerdotes eram vistos como “santos” e não como homens. Assim, se apaixonar por um membro do clero era tido como um grande pecado.
4. Lobisomem
“Mulher que tem sete filhas e o oitavo filho é homem, provavelmente esse último será um lobisomem”. Diz a história que ele se transforma nas encruzilhadas em noites de lua cheia por volta da meia-noite e, ao amanhecer, volta a ser humano.
Em outras regiões do Brasil (principalmente no sertão), a lenda ganhou outra versão: o sétimo filho homem de uma sucessão de filhos do mesmo sexo, pode transforma-se em lobisomem. Existem também histórias que falam que, se um filho não for batizado poderá se transformar em lobisomem na fase adulta. Ao se transformar, o monstro passa a atacar animais e pessoas para se alimentar de sangue. Volta a forma humana somente com o raiar do Sol.
5. Boitatá
É uma grande serpente de fogo que vaga pelas florestas protegendo os animais e matas brasileiras. Sua história vem do tupi-guarani e seu nome quer dizer “cobra-de-fogo”. De acordo com a lenda, a pessoa que olha diretamente para um Boitatá fica cega, louca ou morre.
De origem indígena, existem diversas variações da lenda do Boitatá. O primeiro relato escrito da história data do século XVI, feito pelo Padre José de Anchieta, que descreve uma criatura em forma de serpente e feita de fogo. Mas, em outras regiões do país, o Boitatá também é descrito como um touro que cospe fogo pela boca. Entre algumas das principais características do Boitatá está a capacidade de se transformar num tronco em brasa, queimando quem estiver por perto. Esta artimanha seria usada pela criatura para se vingar dos incendiários de florestas.
6. Boto
Nas noites de festa junina, o boto transforma-se em um homem muito atraente e seduz mulheres para levá-las ao fundo dos rios. Na cultura amazônica, o boto é conhecido como o pai de todos os filhos de origem paterna desconhecida. Vestido todo de branco e com um grande chapéu na cabeça, o boto escolhe a virgem mais bonita da festa para ser sua companheira daquela noite. A criatura leva a moça para o fundo do rio, onde a engravida.
A lenda do boto diz que ele não consegue fazer a metamorfose completa de animal para homem e, por isso, usa um chapéu. A criatura veste esse adereço para esconder um buraco que tem no meio da cabeça, o que seriam as narinas do boto. Esta lenda é muito comum nas comunidades ribeirinhas da região amazônica para tentar justificar uma gravidez acidental, ou seja, que aconteceu fora de um relacionamento estável.
7. Cuca
Quem nunca ouviu a cantiga “dorme neném, que a Cuca vem pegar”? Essa personagem é representada por uma velha com cara de jacaré que busca crianças desobedientes. As histórias sobre a Cuca são contadas para estimular o bom comportamento entre os jovens. A popularidade deste personagem folclórico aumentou quando foi retratada por Monteiro Lobato no clássico infantojuvenil Sítio do Picapau Amarelo.
A origem da lenda está baseada em um ser mitológico conhecido entre os povos da Península Ibérica (Portugal e Espanha): a Coca. Esse monstro era descrito como um dragão que comia crianças desobedientes. A história ainda dizia que a criatura ficava constantemente no telhado das casas, espreitando as ações dos jovens mal-educados.
8. Iara
A mãe d’água é uma sereia belíssima que atrai os pescadores com suas canções a fim de matá-los nas profundezas dos rios. A história conta que ela foi amaldiçoada por sua beleza e condenada a viver sozinha nos rios, atraindo homens para um fim trágico. Iara é descrita como tendo os cabelos negros, compridos e uma voz hipnotizante. De acordo com a lenda, Iara emite um som tão agradável que todos os homens ficam enlouquecidos de desejo.
A história tradicionalmente transmitida pelos indígenas diz que Iara era uma bela jovem e todos os seus irmãos sentiam inveja de sua beleza. Além de extremamente bonita, Iara também era uma guerreira muito corajosa. Assim, a única solução que seus irmãos encontraram para se livrar de tamanha inveja seria matar a jovem.
Mas, Iara consegue matar os seus irmãos primeiro. Consequentemente, Iara foge para não ter que sofrer com a punição do seu pai, o pajé da tribo. Mas este acaba por encontrá-la e como punição, lança a filha ao rio. Os peixes salvam Iara, transformando-a em sereia. Assim, a índia começa a usar a sua beleza e sedutora voz para atrair os homens ao fundo do rio, matando-os afogados.
Use as lendas para animar as aulas
Todos esses personagens são muito ricos e cada um deles têm características específicas conforme cada região aborda suas histórias. Você pode trabalhá-los em atividades relacionadas à educação artística, ou resgatar costumes e tradições de cada localização nacional em aulas de geografia, e até mesmo trazer cantigas e parlendas sobre cada um deles para animar as aulas de língua portuguesa ou história.
Ao tratar do folclore durante o dia a dia letivo, você não apenas estará tornando o processo de aprendizagem mais divertido, como também proporcionando que as crianças conheçam mais das riquezas culturais do nosso Brasil. Transformar a educação em um modelo mais inclusivo também se trata de valorizar nossas próprias tradições.