Você sabia que 150 milhões de crianças em todo o mundo sofrem com a prática de bullying? Este é um dado apontado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), da Organização das Nações Unidas (ONU). E entre os alunos que admitem praticar alguma forma de violência contra seus colegas, temos um total de 17 milhões de pessoas. Inclusive, segundo o relatório da Unicef, o Brasil é o quarto país no mundo em que a prática de bullying está mais presente em ambiente escolar. E é por essa razão, que precisamos falar sobre esse tema e buscarmos agir ativamente para combatê-lo.
Até pouco tempo atrás, as questões relacionadas ao bullying eram encaradas apenas como “briguinhas de crianças”, e eram justificadas como brincadeiras bobas e naturais no dia a dia infantil. Felizmente, de uns tempos para cá, avançamos na discussão e já compreendemos que bullying é um problema crônico na escola. É um tipo de comportamento que não surgiu ontem e, muito menos, será superado de uma hora para a outra.
E para contribuir com o processo de percepção, reflexão e atuação dos educadores a respeito do bullying em ambiente escolar, nós buscamos referências e preparamos este material com alguns toques importantes para abrirmos cada vez mais os olhos para essa causa. Continue lendo e engaje-se você também para tornar a escola um lugar de construção de conhecimento e estímulo ao respeito e igualdade entre seus educandos!
Leia também a entrevista que Julio Furtado, mestre e doutor em educação, professor, escritor, palestrante e especialista em Programação Neurolinguística, concedeu, respondendo a 12 perguntas sobre o bullying na escola.
Quais sinais os educadores precisam atentar no que se refere à prática de bullying?
Bullying é uma palavra que expressa situações em que alguém está sofrendo assédio moral devido a suas características. Estas ocorrências, inclusive, desencadeiam nas vítimas momentos de angústia, dor e até mesmo insatisfação pessoal. No caso dos agressores, a prática do bullying motiva uma sensação de poder e autoafirmação.
De um modo geral, as crianças que são vítimas de bullying fazem parte de determinados grupos que podem ser facilmente identificados pelos educadores. Por exemplo: alunos novos, que são tímidos demais, que possuem traços físicos que se diferenciam do padrão entre a maioria dos educandos daquela turma, ou mesmo por serem muito altos, baixos, com peso acima ou abaixo da média e, inclusive, existem casos em que as vítimas são os alunos com melhor ou pior desempenho escolar.
A principal dificuldade em relação a esse tipo de situação é que, dificilmente, as vítimas da prática de bullying se sentem confortáveis para falar sobre os momentos de opressão que estão vivenciando. Por esse motivo, é importante que os educadores prestem atenção em alguns sinais de comportamentos que são característicos de crianças que estão sofrendo com o bullying. Os mais comuns são:
- Dificuldade para a aprendizagem
- Isolamento e falta de contato com outras crianças
- Comportamento agressivo
- Aumento na frequência de faltas escolares
E agora você deve estar se perguntando: após perceber situações de bullying, o que você – como educador ou educadora – pode fazer para agir em busca de superar esse desafio? Bem, a resposta inicial é conversar primeiramente com a vítima das agressões, para explicar a ela que ninguém é merecedor de passar por situações deste tipo e, portanto, quem está errado não é quem sofre e sim quem pratica o bullying. É essencial esclarecer que a culpa nunca é da vítima e que em nenhum momento ela deve se desmerecer por conta disso.
O próximo passo é se reunir com quem está praticando o bullying para explicar um pouco mais sobre as consequências dessas ações para quem sofre, assim como instruir a respeito da revisão de comportamentos e exemplificar as formas de punição que serão adotadas pela instituição escolar, caso as agressões permaneçam. É claro que cada caso precisa ser filtrado individualmente, para que possa ser exposto o motivo do praticante de bullying estar envolvido com esse tipo de prática, de modo a oferecer a ele também a possibilidade de entender mais sobre o assunto e superar tal comportamento em suas ações junto às outras pessoas.
Conheça os tipos mais comuns de bullying entre as crianças
Apesar de não ser uma exclusividade do ambiente escolar, é nele que a prática do bullying é mais recorrente entre as pessoas. Isto acontece porque, nas fases de formação de suas personalidades, as crianças muitas vezes buscam alternativas para se autoafirmar, além de não estarem tão habituadas a conviver com diferenças. E é aí que entra o educador no processo de combate ao bullying: cabe a nós inserirmos em nossa atuação formas de estimular a compreensão e respeito entre os educandos, ensinando por meio da valorização da individualidade de cada um.
Para isso, é importante conhecer algumas das principais manifestações de bullying na escola. Nós separamos algumas formas que os agressores mais usam para intimidar suas vítimas para que você preste atenção e engaje-se na luta contra esse tipo de violência. Confira:
1 – Exclusão social
Esta é a forma mais comum de bullying em ambiente escolar. Configura-se basicamente quando um grupo de alunos isola a vítima, impedindo-a de se enturmar, participar de brincadeiras ou até mesmo conversar com outras pessoas. Também acontecem situações nas quais os agressores encontram formas de explicitar esse isolamento, menosprezando a criança que está sofrendo com ele, ao ponto de levá-la ao choro e sensação de rejeição e infelicidade com a convivência coletiva.
Mesmo sendo uma das práticas mais frequentes, esta é uma das situações mais complicadas de se perceber, pois ocorrem apenas em momentos nos quais os educadores não estão presentes e, na maioria das vezes, a vítima sequer entende a gravidade da situação ao ponto de se sentir confortável para buscar ajuda.
Para combatê-la, a dica é: procure acompanhar as atividades dos seus educandos em momentos nos quais eles não percebam sua atenção tão diretamente. Isto pode ser durante o intervalo entre as aulas, em atividades em grupo junto com a turma, ou mesmo em momentos de refeição coletiva.
2 – Intimidação
A intimidação consiste em estimular situações de medo e pânico na vítima. No processo de prática dessa forma de prática de bullying, os comportamentos mais frequentes são as ameaças, assédio e até mesmo violência física. No que se refere ao bullying na escola, isso acontece em momentos nos quais não há supervisão de um adulto ou responsável.
Para percebê-la, além de atentar aos comportamentos comuns entre as críticas (conforme citamos acima), é importante que os educadores incentivem a abertura do diálogo com seus alunos. Convide-os a relatarem tais situações sempre que necessário, sem ter vergonha de expor a agressão ou agressores. Afinal, o primeiro passo para combater o bullying é falar sobre ele, para que as ações adequadas possam ser colocadas em prática junto a todos os educandos.
3 – Manipulação social
Mesmo na infância, o status social é bastante valorizado entre as pessoas. E é justamente neste aspecto que essa forma de bullying e intimidação atua: no processo de distorcer a imagem da vítima e ridicularizá-la em meio aos demais. Esta prática acontece quando tudo o que uma pessoa faz ou diz torna-se motivo de piada, fazendo com que ela se sinta deslocada e inferiorizada por seus colegas.
No início, esta opressão é executada por um grupo pequeno em cima de uma única pessoa. Porém, quando a repercussão aumenta, é possível que toda uma turma compre a ideia e rotule a vítima do bullying como alguém que de fato é rejeitada pelas outras pessoas, isolando-a cada vez mais.
Uma forma de combater esse tipo de ação é estimular que os educandos trabalhem uns com os outros fora de suas panelinhas de amizade. Esta é uma estratégia que contribui para incentivar que eles conheçam uns aos outros e aprendam a conviver com as diferenças.
4 – Coerção
Novamente relacionado com o status social entre os colegas, este tipo de bullying consiste em coagir a vítima a realizar ações que são contra sua vontade pessoal. Exemplos disso variam de situações mais individuais como passar cola durante uma avaliação, até casos que envolvem outras pessoas, como praticar violência e opressão contra algum outro colega, a mando de um terceiro.
O benefício para a vítima desse tipo de opressão é se sentir pertencente a determinado grupo, enquanto que ao praticante do bullying a vantagem é a reafirmação de seu poder de influência e persuasão dentro do grupo.
O papel do educador para combater esta prática é, mais uma vez, estimular o debate sobre igualdade de direitos e valorização da individualidade de cada um, além de incentivar a redução das panelinhas, para que todos possam conviver mais próximos e fortaleçam a amizade uns com os outros.
Lidando com a prática de bullying
Ao se deparar com quaisquer sinais entre os comentados, é importante que os educadores dediquem atenção e reflitam sobre como guiar a resolução do problema contemplando tanto a vítima, quanto os agressores. Incentivar mecanismos de negociação é essencial para acabar com o assédio causado pelo bullying na escola.
Atualmente, a prática de bullying já é classificada pela legislação nacional como um tipo de agressão grave (lei nº 13.663/2018) e, por isso, precisa ser combatido em todos os âmbitos da sociedade. Afinal, as consequências de ser vítima de opressões podem refletir em problemas muito graves para a autoestima e comportamento dos educandos.
Transformar a educação vai além de apenas repensar práticas de ensino, inclui repensar também os comportamentos adequados para formar cidadãos capazes de respeitarem e conviverem com as diferenças, de modo a se engajarem pela transformação do mundo com base no bem-estar social.
Você já lidou com situações de prática de bullying na sua turma? Conta pra gente como você e seus educandos lidaram com essa situação.